Há quase 10 anos, a propósito de uma intervenção de Jorge Sampaio, então presidente da República, em Argel como líder de facção, escrevi neste post a seguinte teoria conspirativa para explicar a atracção que o Palácio de Belém exerce sobre os nossos políticos:
Há uma tradição velha de 28 anos, que remonta ao general Ramalho Eanes, que promoveu um partido à custa do cargo e do partido do doutor Jorge Sampaio, e continua com o doutor Mário Soares, que se promoveu ao cargo também à custa do partido do doutor Jorge Sampaio. Essa tradição atribui ao presidente da República as dores da oposição e o papel de ersatz do seu líder.
Talvez por isso o lugar parece tão atractivo. Veja-se a longa lista dos presuntivos candidatos: Cavaco Silva, Guterres, Santana Lopes, Soares (pai), Soares (filho), Marcelo Rebelo de Sousa, Freitas do Amaral, Carlos Monjardino, Vieira de Almeida, José Miguel Júdice, entre tantos outros já esquecidos ou ainda não revelados que poderão render-se à tentação de não mandar nada, nem deixar mandar, e não pagar por isso.
E porquê a atracção? Uma teoria conspirativa: é mais barato e mais agradável ser presidente da República do que líder da oposição, que implica suportar a travessia do deserto do poder, aguentar uma cambada de potenciais traidores escondendo as navalhas da traição nas calças da pouca vergonha e suportar uma infinita corja de medíocres ansiando por uma sinecura, tudo isto apenas mitigado pelo séquito de seguidores incondicionais, que vai minguando, na medida em que mingua a esperança do governo de serviço cair.
Mais importante do que perceber o porquê daquelas almas se sentirem atraídas pela presidência, quais borboletas pelo candeeiro, é perceber as causas da popularidade da coisa. Porquê a populaça venera tal comportamento, que outras populaças doutras paragens achariam irresponsável e oportunista?
Deve haver algo nas profundezas da alma lusitana que o explica. Algo que leva os portugueses a criarem mecanismos sociais e políticos para entropicar a sua vida. O Impertinente acredita que a coisa remonta à ocupação da Lusitânia pelo império, se não antes – não é verdade que um governador romano escreveu ao imperador, lamentando-se, resignado, que os povos indígenas não ser governavam nem se deixavam governar?
Vem isto a propósito de mais um que não se exclui a ser candidato – a esta distância os candidatos são apenas candidatos a candidatos que aguardam «vagas de fundo» que tornem «incontornável» a aceitação do pesado encargo de servir a nação. Trata-se agora de António Capucho que declarou não se excluir, sem surpresa dada a barragem de artilharia preparatória nos últimos dois anos de críticas à governação «neoliberal» - podia ser só ressabiamento mas não é, vê-se agora.
Capucho vem adicionar-se a uma lista já longa que inclui alguns que não se excluem já mencionados há 10 anos, Santana Lopes e Marcelo Rebelo de Sousa, e ainda Durão Barroso, Carvalho de Silva, António Sampaio da Nóvoa, além, evidentemente, do eterno candidato do MRPP Garcia Pereira e do representante do PCP, no caso do «sapo» apoiado pelo Dr. Soares não ser engolível.
(Continua)
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