Ao ler o post de Pinho Cardão sobre «O exemplo alemão», a propósito da convenção do SPD alemão ter aprovado as conversações com a CDU, onde se salienta a estabilidade governativa alemã (com 4 primeiros-ministros desde o 25 de Abril) contrastando com a instabilidade portuguesa (16 primeiros ministros e mais 3 “provisórios”), perguntei aos meus botões: como explicar que ninguém nos tempos que correm admite seriamente a viabilidade de um acordo de governo entre PS e PSD? Salvo o professor Cavaco Silva, que não sabemos se admite ou se finge admitir, por razões que ele saberá.
Creio residir a explicação mais simples no facto de os potenciais acordos CDU-SPD serem vistos como acordos de soma positiva, isto é ambos os partidos, apesar de já terem governado sozinhos e poderem voltar a fazê-lo no futuro, pensam ganhar com o acordo (que ganhem de facto, isso é outra questão, como se viu com o 2.º governo Schroeder), porque a governabilidade da Alemanha será assegurada. Dito de outra maneira, os partidos pensam que o que é bom para a Alemanha será bom para o partido.
Diferentemente, por via do móbil principal dos partidos portugueses ser garantir a colocação dos seus apparatchiks, sem a qual os apparatchiks desertam e o partido fenece, um acordo entre os dois que aspiram a governar sozinhos é visto como uma soma nula porque com o acordo ambos os partidos abdicam de colocar uma parte dos seus apparatchiks. Dito de outra maneira, os partidos pensam que o que é bom para eles será bom para Portugal.
Então como explicar o IX governo do Bloco Central com Mário Soares e Mota Pinto? Como uma excepção, só possível por circunstâncias excepcionais, nomeadamente o PS ter apenas 101 deputados (a propósito recorde-se que o PCP tinha então 44), o espectro da «traição» de Freitas do Amaral no II governo ainda estava fresco e, sobretudo, a empatia entre Mário Soares e Mota Pinto, prováveis parceiros de uma espécie de bunga-bunga, como lhe chamou Joaquim Vieira. Essa empatia era tão importante que poucos meses depois da morte de Mota Pinto o IX governo ruiu.
Já agora, talvez deva esclarecer que achando improvável uma reedição do Bloco Central, também tenho dúvidas se seria uma boa solução, mesmo in extremis, para salvar o país da bancarrota. Por várias razões, sendo uma delas a tendência dos dois partidos tentarem compensar a partilha do bolo das nomeações de apparatchiks e do assalto ao orçamento com o aumento de um e de outro.
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