25/01/2013

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Convertido ao crescimentismo

Secção Entradas de leão e saídas de sendeiro

Depois de ter dito algumas verdades impopulares, tais como a inevitabilidade de os salários ainda terem de baixar e a ignorância dos empresários, que suscitaram amplas ondas de indignação das luminárias do regime, devidamente amplificadas pelos megafones do jornalismo de causas, António Borges parece ter-se cansado e resolvido converter-se ao discurso crescimentista, concluindo numa entrevista à Renascença: «já temos a economia equilibrada e, em muito sentido, já não precisávamos de mais austeridade nenhuma … no sentido macroeconómico claro que não, porque já não temos défice externo. É necessário cortar o défice público, o que é uma coisa diferente. Mas esse corte deve ser acompanhado de um regresso ao crescimento no investimento e no consumo».

Infelizmente António Borges não se deu ao trabalho de nos esclarecer como vamos cortar o défice público sem a continuação de medidas de austeridade, e, se regressamos ao consumo, de onde virá o dinheiro para investir a partir das sobras do consumo e do serviço de uma dívida pública crescente e de uma dívida externa de uma dimensão pantagruélica (2,5 vezes o PIB), dívida externa na melhor hipótese estabilizada - se as contas externas continuassem equilibradas, o que não aconteceria com o aumento do consumo.

Três urracas pela conversão à vulgata crescimentista, que certamente lhe renderá o tributo da economia mediática, e cinco chateaubriands, se for um caso de fé equivalente a abençoar a divina providência por fazer passar os rios pelo meio das cidades.

1 comentário:

  1. Bom título. Pensei exatamente no mesmo quando li a notícia. As pessoas não gostam de se sentir isoladas nos seus pontos de vista, começam a sentir-se inseguras e sucubem à maioria. Fico também surpreendida com alguns bloggers que na televisão parecem muito mais mansos. Espero que isso não aconteça nunca a PPC.

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