19/10/2012

Pro memoria (73) - Recordando a 2.ª intervenção do FMI em 1983

Continuando a retrospectiva (aqui e aqui) das duas anteriores intervenções do FMI, pela mão de Mário Soares, vou mais uma vez recorrer a Pinho Cardão e ao seu excelente post «Vítor Gaspar e Hernâni Lopes: tudo diferente, tudo igual» no 4R.

«Em 1983, os cortes directos nos salários e no subsídio de Natal e o aumento de impostos, para além do congelamento de admissões na função pública equivaleram-se tendencialmente nos seus efeitos às medidas similares actuais. Para além disso, a desvalorização do escudo em 13% diminuiu substancialmente, e por si só, o poder de compra já de si abalado pelo corte nos salários. Mas aconteceu ainda que os salários reais tiveram ainda uma outra diminuição drástica de cerca de 12% em 1983 e 1984, pelo efeito inflação. Porque os aumentos salariais verificados não acompanharam a inflação, que atingiu os 30%, tal levou a uma transferência de fundos dos trabalhadores para as empresas, já que estas, através da inflação iam fazendo subir o preço dos produtos. Transferência essa em tal montante que torna ridículo o montante agora proposto pela TSU. A inflação da altura criou assim uma colossal ilusão monetária e, porque ilusão, razoavelmente aceite por todos, ao contrário de agora.

Mas se, no primeiro momento, a crise se acentuou, a economia entrou em recessão, os despedimentos aumentaram e o desemprego subiu em flecha e a fome apareceu, as medidas tomadas vieram rapidamente a melhorar o mercado de trabalho e o emprego cresceu, a diminuição dos custos empresariais levou a maior competitividade e aumento das exportações, no fim, a uma reactivação da actividade económica.

A grande virtude da política então seguida foi a de uma actuação fulminante. O que havia de ser feito foi feito de uma vez e de forma instantânea.»

Se em termos das consequências objectivas das medidas de austeridade, as de então não foram menos duras do que as de hoje, nesse caso, quais as principais diferenças políticas?
  • O PS liderava então o governo e não a oposição;
  • Mário Soares fazia de primeiro-ministro e não de agitador;
  • O PSD liderado por Mota Pinto era um parceiro minoritário leal no governo, diferentemente do CDS de Paulo Portas;
  • O PS não era o principal responsável pela crise que exigiu a intervenção do FMI, como agora indiscutivelmente é, interessado em camuflar a génese da crise;
  • A dureza das medidas de austeridade foi ocultada pela ilusão monetária;
  • A seguir a um PREC e suas sequelas que deixaram o país de rastos, as referências dos portugueses em termos de bem-estar e acesso a bens de consumo eram então muito inferiores; depois de 30 anos a viver a crédito, as expectativas são hoje tão altas que qualquer pequeno sacrifício parece insuportável.

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