16/04/2012

DIÁRIO DE BORDO: Nós e a auto-estima (2)

Num estudo da Universidade de Aveiro financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, baseado em inquéritos a mais de 4 mil trabalhadores, concluiu-se que quase 80% dos inquiridos acha ter uma capacidade para o trabalho boa ou excelente e apenas 2% se considera com fraca capacidade. Talvez não por acaso, das 6 classes profissionais consideradas são os polícias os que se autoavaliam mais favoravelmente.

Chegado aqui, surge uma dúvida incontornável. Com tanta gente com capacidade profissional boa ou excelente porquê a nossa produtividade e competitividade nos mercados internacional são medíocres? Escrevo medíocre para ser optimista, porque medíocre é médio ou mediano e na zona económica onde nos metemos estamos longe de estar na média.

Preparava-me para acrescentar uns comentários, quando me recordei de ter escrito o ano passado o seguinte post:

No (Im)pertinências têm-se defendido principalmente causas impopulares. Um notório exemplo é o do excesso de auto-estima dos portugueses, excesso que para as luminárias nacionais é a sua carência desculpabilizante e justificativa das nossas misérias. Daí, como aqui escrevi, a prática dessas luminárias do «afagar infantilizante do ego dos portugueses (que) não conduz a mais do que uma satisfaçãozinha preguiçosa e negligente que alimenta o conformismo».

É por isso que devo saudar as palavras desassombradas de João Pereira Coutinho (lidas aqui, por esta via) a este respeito:
«Está enganado se pensa que os portugueses não têm auto-estima. Pelo contrário: difícil é encontrar um povo tão narcisista quanto o nosso, com a provável excepção dos brasileiros, que mais não são do que portugueses dilatados pelo calor (obrigado, Eça). Na verdade, só um povo com excesso de auto-estima seria capaz de produzir e consumir (em êxtase) um vídeo masturbatório daqueles; e só um povo com um défice de auto-respeito também. O que temos a mais em vaidade falta-nos em trabalho, sentido do ridículo e noção das responsabilidades.»

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