Muito menos surpreendente do que a «conversão» tardia e inesperada de António José Seguro às políticas liberais preconizadas na carta assinada por David Cameron e mais 11 primeiros-ministros, é a conversão de Marques Mendes às visões manobristas próprias da política paroquial portuguesa, ao reduzir as posições daqueles 12 a uma «jogada pessoal» de Cameron. Por isso, segundo ele, «não vem mal ao mundo» Passos Coelho não ter assinado.
Certamente a carta de Cameron é uma «jogada pessoal» como são todas as acções e discursos dos políticos, incluindo Marques Mendes. Desse ponto de vista, até poderíamos imaginar que Churchill ao dizer durante a batalha de Inglaterra ao povo britânico «I have nothing to offer but blood, toil, tears and sweat» também estaria a fazer uma «jogada pessoal».
Porém, fazer essa interpretação redutora da carta dos 12 que alinha um conjunto de reformas que se adoptadas dariam um novo folego ao mercado comum (sim, estou a falar de mercado comum e não de federação europeia) é mais próprio de uma mentalidade conspiratória e manobrista do que de um político com visão.
Por isso Marques Mendes sentiu necessidade de justificar a não assinatura, passando ao lado da muito provável verdadeira razão para Passos Coelho ficar de fora, apesar de aparentemente se identificar com as ideias base da carta. Razão que é muito prosaica: não podemos morder a mão que nos dá a esmola. Porque se percebe que as ideias dos 12 estão em rota de colisão com os federalismos e as óropas suciais que dona Merkel e o assessor Sarko parecem subscrever - dona Merkel que nos empresta dinheiro se nos portarmos bem.
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