«… as agências de rating nos perseguem como uma matilha enfurecida há muitos meses. O “lixo” é apenas mais um passo – o mais humilhante de todos -, nessa degradante corrida.»
Meia dúzia de linhas abaixo deste fragmento de retórica zoológica, Ricardo Costa, director do Expresso, escreve sobre «… a questão que PSD, o CDS e PS se recusam a encarar: neste momento, é muito provável que Portugal não consiga pagar tudo o que deve nos prazos combinados. É triste dizer isto? É, mas é verdade? … Com uma dívida enorme, juros estratosféricos, um crescimento endémico e um nível de fiscalidade absurdo, Portugal vai ser obrigado a renegociar a sua dívida.»
Se Ricardo Costa fosse analista em vez de director do semanário do regime, omitiria a lengalenga popularucha do jornalismo de causas do primeiro parágrafo citado e seria obrigado a circunscrever-se aos factos que objectivamente descreve no segundo, reconheceria como realistas as premissas da Moody’s, atrasadas em relação ao que os mercados já anteciparam, teria dispensado o termo «lixo» para açular a matilha (agora sou eu a usar a retórica zoológica) e poderia ter escrito o que a Moody’s escreveu para fundamentar o downgrade da dívida pública portuguesa de longo prazo de Baa1 para Ba2:
«Moody's acknowledges that its earlier concerns about political uncertainty within Portugal itself have been largely resolved. Portugal's national elections on 5 June led to the formation of a viable government, both components of which had campaigned on the basis of supporting the EU-IMF loan agreement negotiated by the previous government. Moody's also acknowledges the policy initiatives announced at the end of June demonstrate the new Portuguese government's commitment to the programme. However, the downside risks (as detailed above) are such that Moody's now considers the government long-term bond rating to be more appropriately positioned at Ba2. The negative outlook reflects the implementation risks associated with the government's ambitious plans.»
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