[Continuação de (1), (2) e (3)]
Já ficou bastantemente patente o que por aqui pensamos da gestão de António Mexia, cujos resultados são bastante questionáveis, a não ser no tocante ao notável retorno mediático, aparentemente muito graças a Sérgio Figueiredo que assim retribui a sinecura da Fundação EDP. Mira Amaral, um bom conhecedor do sector da energia, pode não estar motivado nas suas críticas pela mais pura das intenções, mas o que escreveu no artigo seguinte no Expresso vale por si mesmo como exame objectivo dos resultados da gestão de Mexia.
A EDP E AS EÓLICAS
«Mexia recebeu uma ótima empresa com engenheiros e quadros do melhor que há em Portugal e com uma excelente posição no Brasil, onde a dupla Talone-Jorge Godinho fez um notável trabalho de recuperação.
Esta EDP apostou quase tudo no boom do crescimento das eólicas. Em Portugal, tal foi completado com investimentos em bombagem destinada a acumular o excesso de produção eólica.
A EDP está em 90% dos seus negócios dependente de mercados regulados e de contratos de longo prazo como os CAE e os CMEC.
A febre de crescimento tem sido tão elevada que o Free Cash-Flow tem sido negativo, o que significa que o pagamento dos dividendos tem sido feito com a emissão de dívida. A EDP pagou de 2006 a 2010 mais em encargos financeiros do que em dividendos. A dívida líquida já anda pelos 16,3 mil milhões de euros (quase 10% do PIB português!) e o rácio NET DEBT/EEBITDA é já 4.66, dos mais elevados das utilities europeias similares. A EDF, Iberdrola e Endesa têm respetivamente 2.33, 3.46 e 0.60. Mas não é apenas o nível absoluto da dívida que preocupa, mas também os riscos que podem afetar os cash-flows regulados e ainda a tendência de aumento dos custos de capital.
Pôs-se em causa o equilíbrio entre crescimento e criação de valor e a diferença entre o retorno do investimento (ROI) e o custo do capital (Wacc) (*) é tendencialmente negativa.
Enquanto o Presidente da República aconselhava a passarmos férias cá dentro, devido ao desequilíbrio externo, a nossa EDP investia alegremente no estrangeiro em parques eólicos, sujeitos a grandes riscos políticos, regulatórios e também de mercado.
A prova de que o mercado já antecipou esses riscos está na chocante cotação atual da EDP Renováveis (cerca de 4 euros por ação) quando foi colocada a ação no mercado a 8 euros no IPO! Falta vento a estas ações. Se nós, comuns e mortais gestores, tivéssemos feito isto, o que diria a imprensa...
Assim:
1. O risco país vai penalizar o custo de capital da EDP pressionando os encargos financeiros de uma dívida em que 53% é a taxa variável;
2. O acordo com a troika põe em causa os pressupostos da EDP sobre a ausência de riscos nos seus cash-flows em Portugal porque a estabilidade regulatória das tarifas políticas das renováveis, dos CAE e dos CMEC é questionada, pedindo-se revisões em baixa, e porque se tem de aplicar o 3.º pacote comunitário da liberalização que vai levar as receitas e as margens a baixarem;
3. O nível de consumo também certamente se reduzirá em Portugal;
4. Nos EUA há riscos regulatórios e políticos, com a prometida e falhada legislação Obama, e riscos de mercado com o efeito do 'shale gas' sobre os preços da eletricidade. Na Escócia, onde se investiu no offshore eólico, há tremendos riscos dum projeto pioneiro em ambiente muito hostil.
Em suma, a tal escala que Mexia tanto gosta é de alto risco, o impasse estratégico é evidente mas o retorno mediático tem sido elevado... »
(*) Weighted average cost of capital
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