«Portugal é um país socialista. Os portugueses gostam de ter o Estado a acompanhar a sua vida, a regular, a tomar conta, a fornecer apoios e serviços, a prometer benesses. O ideal de vida da população média é o funcionário público, com trabalho à secretária, horário fixo, emprego seguro, promoção automática.
Esta verdade é antiga e manifestou-se de várias formas. Pombal chamou-lhe "despotismo esclarecido", Fontes Pereira de Melo "modernização e progresso", Salazar "Estado corporativo", mas era isto que queriam dizer. Fomos socialistas na Casa da Índia e na Casa do Douro, no condicionamento industrial, adesão à EFTA e mercado único.
Somos um país em que acusar alguém de "fins lucrativos" é ofensivo e a simples presença de privados na saúde e educação lança alarme. É verdade que depois todos dizem mal do Estado, escolas e hospitais públicos e acabam por ir à privada. Criticar o Governo, câmaras e serviços é desporto institucional. Os políticos são todos horríveis e os burocratas incompetentes e abusadores. Mas não vivemos sem eles.»
Até aqui, não posso estar mais de acordo do que escreveu César das Neves hoje no DN. É a parte do deixar de dar graxa. Começo a discordar com «isto não é bom nem mau» e com o conformismo encapotado de realismo de «o liberalismo não floresce nestas terras. Fora de uma pequena elite, que gosta de lamentar o país, a sociedade é assumidamente estatista. E será durante séculos». É parte do ficar tudo na mesma em vez de mudar de vida.
Uma elite que se demite de contribuir para mudar o país pode não ser pequena mas não é elite.
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