«Os ministérios á volta do Palácio Imperial trabalhavam cerca de 3 dias por semana entre as dez da manhã e as três da tarde. Cada Ministério tinha um pátio apinhado de pessoas que procuravam obter favores do ministro e do secretário. Cada funcionário tinha o seu preço desde os que ocupavam cargos de topo até aos porteiros. Era possível que tivessem de ser subornadas mais de uma vintena de pessoas. Se a gratificação fosse demasiado grande, a hierarquia superior concluiria que o suplicante estava a vigarizar excessivamente o Estado e a candidatar-se á vingança do Sultão. Se a gratificação fosse demasiado pequena o receptor em toda a linha sentir-se-ia insultado e havia o risco adicional de um concorrente se adiantar com a quantia certa. Também era fatal dar uma gratificação demasiado grande a um subalterno porque os seus superiores saberiam e seria uma afronta para a sua dignidade.
O sucesso de Calouste Gulbenkian deveu-se ao facto de ele nunca cometer um erro nas gratificações. O seu conhecimento do lugar exacto de cada homem na cadeia de preços até ao topo, era perturbador.
Ele também sabia qual era o estado preciso de saúde e da disposição de cada ministro e qual o melhor momento para lhe fazer uma visita. Descobria através de subornos o sítio exacto onde o ministro tinha desfrutado de uma agradável sessão com a senhora escolhida do harém (ou com um dos seus rapazes que eram mais valorizados do que as mulheres) se o paxá tinha comido bem ou estava com dores de estômago. Calouste parecia saber até quando é que o paxá ia arrotar ou soltar um gás!
No momento certo, e sem jamais olhar para o ministro, (...) Em seguida, com as mãos cruzadas sobre o peito inquiria sobre a saúde do paxá, falava sobre o assunto que o tinha trazido ali, recebia um aceno e era mandado embora com um gesto de mão na direcção do secretário.
Era então que começava a negociação a sério: qual seria a comissão do ministro no contrato? Quanto é que o secretário ia receber? Quando o preço era fixado, podia ser o triplo do que o contrato valia na realidade!
(...)
Calouste tinha um verdadeiro talento para esta técnica. Um dos seus ditados preferidos era um provérbio árabe: "Beija a mão que não te atreves a morder".
Etc., etc.
(Texto de familiares de Calouste Gulbenkian, citados por Ralph Hewins na sua obra " Mr five per cent - The biography of Mr Calouste Gulbenkian", de 1957, na edição portuguesa da Texto, 2009, que hoje comecei a ler)
Gulbenkian, cidadão do império otomano de etnia arménia, mais tarde naturalizado britânico, natural de Uskudar, hoje Turquia, viveu, salvo erro os últimos 11 anos de sua vida em Portugal. Pelos vistos deixou escola, e da boa.»
[Enviado por JARF]
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