17/04/2010

Só nós é que sabemos

A tese oficial portuguesa é de que a situação das finanças públicas é muito diferente da grega. A tese é ainda referida esporadicamente em Bruxelas e em Frankfurt, muito pouco por convicção e muito mais por conveniência e preocupação com o risco de contaminação ao outro homem doente da Europa, que ponha em causa irremediavelmente a arquitectura da Zona Euro. Zona Euro que Milton Friedman premonitoriamente não acreditava que sobrevivesse à primeira crise económica e, em qualquer caso, não mais de 10 anos.

Aparentemente fora do país e dos meios que têm um interesse directo em desvalorizar o risco de bancarrota portuguesa, o resto do mundo ou não presta atenção ou partilha quase sempre a antevisão duma tragédia grega. Num único dia, o NY Times, um bastião do politicamente correcto, insuspeito de antipatia pela causa da irresponsabilidade financeira, publicou dois artigos de muito mau augúrio para a economia e finanças públicas portuguesas: «Debt Worries Shift to Portugal, Spurred by Rising Bond Rates», de Landon Thomas e «The Next Global Problem: Portugal de Peter Boone e Simon Johnson, este último ex-economista chefe do FMI.

Um das causas salientadas naquele primeiro artigo, que raramente merece a atenção das luminárias domésticas, é a baixíssima taxa de poupança (7,5% do PIB), próxima da Grécia (5%) e muito inferior às de Itália e Espanha (respectivamente 17,5% e 20%) que a par do défice do comércio externo nos condena ao endividamento crescente. A gravidade da situação de endividamento neste contexto é salientada pelo segundo artigo que estima que a uma taxa de juro optimista de 5% e com um défice primário de 5,2%, Portugal precisaria um agravamento fiscal de 10% o qual, sem uma impossível correcção monetária na Zona Euro, conduziria a um emprego socialmente devastador.

Se a nossa situação é tão diferente da Grécia porquê só nós e os directamente interessados é que vemos essa suposta tão grande diferença? Se é uma conspiração, porquê a Irlanda, que tem um défice significativamente mais elevado, não é alvo de semelhante conspiração? [Algumas respostas já foram sugeridas pelo (Im)pertinências em vários posts, nomeadamente neste.]

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