02/02/2011

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: As notícias sobre o surto inovativo são um pouco exageradas

Gostava de partilhar a excitação dos jornais com os resultados do Innovation Union Scoreboard 2010, mas acho um pouco exagerado. A começar nos resultados práticos da inovação, medidos pelas patentes registadas, que tem sido medíocre, para ser benigno, como está amplamente documentado neste post republicado aqui.

Quando consultamos o relatório da ProInno-Europe, verifica-se ser Portugal creditado com o crescimento mais rápido do índice de inovação, mas continuando a fazer parte do grupo «inovadores moderados» na companhia da Grécia e Malta, mas também da Itália, República Checa e Espanha. Para se perceber em que áreas tiveram lugar os progressos mais importantes, é indispensável ver o comportamento dos 24 indicadores que compõem o índice.

Os 3 indicadores com maior progressão foram: despesas de empresas em I&D (27%); patentes PCT (Patent Cooperation Treaty) em mudanças sociais (mitigação das mudanças climáticas e saúde) (26%); «Community designs» (24%). Quanto ao primeiro indicador, estamos conversados quando olhamos para os maiores investidores e as estatísticas de causas que se podem facilmente construir. Quanto ao segundo e ao terceiro são vulneráveis a delírios e fantasias.

Quando o ponto de partida é muito baixo, é precisa relativizar os progressos e por isso deve-se olhar para a situação actual que mostra estarmos numa situação muito inferior à média EU27 naqueles dois primeiros indicadores. Onde já estamos acima é nos «Community designs», seja lá o que isso for. E quanto aos indicadores que têm alguma objectividade, entre os que estamos posicionados acima da média salientam-se os novos doutoramentos (214% da média EU27) e as «International scientific co-publications» (182%). Se este último indicador é de facto significativo por passar o crivo de escrutínios credíveis, já a pletora de doutoramentos, muito deles em áreas esotéricas e sem qualquer relevância para a inovação, levanta muitas dúvidas.

Em conclusão, a prudência aconselha algumas reservas e a não embandeirar em arco quanto à posição (15.ª) no ranking do índice de inovação nos EU27, bastante influenciado pela abundância de doutores. Com segurança, podemos dizer que estamos a gastar cada vez mais dinheiro classificado como I&D e temos cada vez mais doutores. Será isto inovador?

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