[Continuação de (1)]
A semana passada a Economist dedicou algumas páginas (*) às nossas misérias. Vale a pena salientar algumas conclusões.
Sobre as causas do endividamento, benevolamente, a Economist desculpa-nos em parte com a «má sorte» de termos sido apanhados distraídos pela redução das tarifas aduaneiras, acordada no Uruguay Round e aplicada gradualmente a partir de 1995 até 2004, e pela entrada da China na OMC em 2001. A nossa distracção custou-nos a definitiva perda de competitividade dos nossos produtos de baixa tecnologia, principalmente têxteis e calçado, sem design e sem marcas próprias. Por falar nisto, recorde-se que durante que este período tivemos governos socialistas em 13 dos 15 anos, entretidos com as gravuras do Coa, a Expo 98, o Euro 2004 e as auto-estradas. Pelo lado da procura, o surto de crédito barato fez disparar o consumo (e a dívida dos bancos ao estrangeiro) e o incremento das importações de bens de consumo. Os efeitos conjugados da estagnação das exportações, do incremento das importações, que gerou défices persistentes no comércio externo, e das perdas de produtividade (ver este post) que travaram o crescimento, estão bem patentes no gráfico seguinte.
Ao efeito dos défices do comércio externo no endividamento somou-se o efeito dos défices orçamentais crescentes, mesmo com evidentes engenharias contabilísticas. São os défices gémeos endémicos representados no gráfico seguinte (roubado a Miguel Frasquilho - Mudar de vida … e muito rapidamente, Sol, 28-05-2010)
O resultado no que respeita ao endividamento externo ultrapassou tudo quanto a antiga musa canta. Só nos últimos 3 anos, o endividamento externo líquido passou de 157 mil milhões para mais de 191 mil milhões (ver este post).
Vejam-se agora as projecções da Economist para a situação financeira dos PIGS em 2015, baseada nas seguintes premissas: quebra do PIB nominal devido aos programas de austeridade e recuperação apenas em 2015 para o nível de 2010; taxa média de juro de 5,25% para novas emissões e 5 anos para anular o défice primário (sem juros).
Após uma cura de emagrecimento, a dívida pública ainda atingirá 100% do PIB, com uma fortíssima dependência do financiamento externo (66%), maior do que qualquer dos outros PIGS. Face a estas projecções que fazer? É inevitável o pedido de intervenção do FEEF e do FMI conclui a Economist e, acrescento eu, a reestruturação da dívida. Quanto mais tarde pior, mais enfraquecida a força negocial e mais deteriorada a situação financeira e maiores os juros e mais duras as medidas de austeridade. Estamos à espera de quê? Estamos à espera que José Sócrates gaste os últimos cartuxos de pólvora seca com o beneplácito de Cavaco Silva e o En attendant Godot de Passos Coelho?
(*) Especialmente dois artigos: Bite the bullet e Still scary
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