07/07/2009

Cada povo tem os políticos que precisa (e vice-versa)

O estudo da SEDES (*) sobre a qualidade da democracia portuguesa que acaba de ser divulgado não tem nada de surpreendente para quem acompanhe com alguma atenção a vida política e a sociedade portuguesa. Surpreendente poderá ser a dimensão da insatisfação (51% declaram-se nada ou pouco satisfeito com a democracia) ou a aguda percepção da injustiça e da desigualdade perante a lei: 4/5 dos portugueses consideram que a justiça trata de forma diferente os políticos e os cidadãos comuns, por um lado, e ricos e pobres, por outro.

Algo surpreendente poderá ser o gráfico seguinte, sobretudo para quem imagina para breve a conversão dos portugueses a uma visão liberal da economia.

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Não é espantoso que a característica fundamental da democracia mais mencionada seja «uma economia que assegure um rendimento digno para todos» em contraponto às menos mencionadas «realização de eleições» ou, sobretudo, «liberdade para participar na política e criticar o governo»?

Seja um «rendimento digno para todos» o que for, assegurá-lo é uma característica tão essencial à democracia como a uma ditadura comunista ou, para referir algo mais próximo das nossas tradições, a um estado napoleónico-estalinista como costumamos chamar-lhe aqui no (Im)pertinências. Pois bem, talvez seja isso que os portugueses esperam ou o que as elites esperam para si e que esperam que os portugueses esperem para eles próprios. Chegado a este ponto, fico com a angústia do dilema do ovo e da galinha.

(*) A Qualidade da Democracia em Portugal: A Perspectiva dos Cidadãos, Redactor Pedro Magalhães do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, SEDES, Julho de 2009

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