Já se tinha chegado à conclusão que a culpa da crise financeira era da ganância dos banqueiros (quase todos), da falta de regulação e dos pecados do neo-liberalismo. Faltava encontrar “o” culpado que dá sempre muito mais jeito do que muitos culpados.
É aqui que entra Paul Krugman, o último Nobel da Economia, que na sua coluna no NYT escreveu a semana passada «Reagan Dit It» onde explica que tudo começou há 27 anos com a ratificação por Reagan do Garn-St. Germain Depository Institutions Act (a tese de Krugman pode ser lida também em português aqui).
Comecei por ler a versão do i online do «Reagan Dit It», por coincidência imediatamente a seguir a ter lido o artigo de Pedro Lomba «Ainda somos um povo de culpados», onde é evocado Cunha Rego que «responsabilizava Salazar pela criação deste exército de culpados», que somos nós os portugueses. Não concordo nada com a tese de Pedro Lomba que nos vê com um povo de culpados. A minha tese é mais no sentido dum povo de irresponsáveis, ou pelo menos um povo de bananas com uma elite de irresponsáveis. Por isso, mais do que nos culparmos, procuramos desesperadamente um culpado dos nossos males que, na circunstância, para muitos dos nossos políticos e pensadores em exercício, ainda é Salazar.
Paul Krugman, passando por cima duns pequenos pormenores como os aqui demonstrados, encontrou o seu Salazar. O facto de o Salazar de Krugman ser Reagan e o Reagan de Krugman ser o Salazar das nossas luminárias esquerdistas, mostra bem que o que separa a nossa cultura da cultura americana é bem mais do que o que separa Krugman das nossas luminárias esquerdistas.
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