Título do Público de hoje: «Número dos que podem votar não bate certo com os recenseados»
Há os adeptos da prevalência da nature que atribuem a vocação nacional para a inumeracia ao ADN que resultou da miscigenação de tão variados bárbaros, todos igualmente analfabetos, com romanos e árabes um pouco mais letrados, que em épocas diferentes ocuparam a jangada de pedra. Subsidiariamente, a falta de vocação para os números seria compensada pela vocação para a poesia, o que faria de nós um povo de poetas. Outros (os adeptos da prevalência da nurture), explicam a inumeracia com a influência dos adeptos das novas pedagogias nas inúmeras reformas «educativas» nos últimos 35 anos, que aboliram as tabuadas e com elas a esperança dos portugueses serem capazes de fazer pelo menos duas das quatro operações aritméticas. Há ainda os que (possivelmente a maioria) nunca se deram conta da existência do fenómeno. Seja qual for a explicação, parece difícil negá-lo, mas não tanto quanto parece, porque a maioria não se dá conta dele.
A divergência de «quase um milhão de pessoas (que) separa o número de cidadãos maiores de 18 anos e, portanto, com capacidade para votar, e o número de recenseados» parece-me simples de explicar àquela luz, dispensando, portanto, mais elaboração. Parece-me simples, mas pelos vistos não é. Só a vocação nacional para a poesia permitirá compreender as explicações dos especialistas ouvidos pelo Público para o facto de haver mais quase um milhão de recenseados do que de maiores de 18 anos.
Essas explicações vão desde «pessoas que morreram e ainda não foram retiradas dos cadernos eleitorais» a «pessoas que não residem no país mas têm bilhete de identidade com residência em território nacional». Como uns acreditam mais no INE e outros na CNE, a proposta do sociólogo António Barreto é a mais adequada para eliminar o problema e chegar a um só número diferente dos outros dois, provavelmente também errado: «uma só entidade devia coordenar os dois censos».
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