28/12/2008

ESTADO DE SÍTIO: afinal a cóltura é uma indústria.

Segundo um estudo da empresa de consultoria do doutor Augusto Mateus (esse mesmo, o ministro da Economia do engenheiro Guterres, do Plano Mateus, etc.), encomendado pelo Gabinete de Planeamento, Estratégia e Relações Internacionais do ministério da Cultura (pausa para respirar), citado pelo Sol, a «Cultura produz 6% da riqueza». Olhando para a coisa mais de perto, verifica-se que desta «Cultura» só uma parte não determinada, mas provavelmente pouco significativa, de 0,4% do VAB se refere à cóltura (*), as chamadas no estudo «actividades nucleares», o olimpo no qual se masturbam os escriturários do ministério e as elites intelectuais do burgo. O resto, ou seja quase tudo, são «indústrias culturais», isto é entertainment, ou seja aquilo que o povo ignaro consome deliciado e que faz úlceras aos artistas da arte independente, isto é a arte dependente do orçamento do ministério da Cultura.

(*) A Cóltura (com maiúscula) é a actividade das pessoas cóltas, que concebem óbjectos cólturais invendáveis. Os cóltos não costumam ter, a não ser marginal e esporadicamente, um labor produtivo - fogem dele como o diabo da cruz. Tentam, e por vezes conseguem, obter uma sinecura do Estado (com maiúscula) . Geralmente chegam a este ponto depois de viverem às custas do mecenato familiar, de amigos e, uma vez ou outra, para os mais talentosos, às custas dum(a) namorado(a) ou dum(a) amante. Há exemplos conhecidos de pessoas cóltas que foram bafejadas ao longo da sua vida por sucessivos mecenatos, às vezes cumulativos. (Glossário das Impertinências)

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