10/09/2008

ARTIGO DEFUNTO: as causas prosaicas do jornalismo de causas

É observável em Portugal, como em muitos outros países, o enviesamento à esquerda dos mídia. Em primeiro lugar, como resultado da sobre-representação relativamente ao seu peso na sociedade civil da esquerda no jornalismo, incluindo das correntes que, de modo assumidamente provocatório, aqui no (Im)pertinências se costumam chamar esquerdalhada.

Não está agora em causa a génese dessa sobre-representação, que é a mesma da sobre-representação da esquerda nos meios artísticos e intelectuais, e em geral nas profissões «nobres» que não metem as mãos na massa. Estão agora em causa os mecanismos mais prosaicos, aplicáveis a priori tanto à esquerda como à direita domésticas, mas claramente mais fortes na esquerda, de adesão a causas diversas de jornalistas que, independentemente dum maior ou menor alinhamento com o governo da ocasião, procuram com ansiedade uma vaga de assessor que lhes permita subir do modesto salário dum jornalista ao patamar da sinecura governamental. São conhecidos casos de jornalistas que saíram do limbo das redacções para o olimpo da assessoria duplicando ou triplicando os seus réditos, afora as ajudas de custo pela inclusão nas trupes ambulatórias do respectivo ministério.

Não é precisa muita imaginação para adivinhar as cumplicidades, os pequenos e grandes favores que jornalistas (alguns? muitos?) estarão dispostos a prestar na esperança da sua vez chegar um dia. Tudo isto devidamente embrulhado nas roupagens das causas que aos seus olhos legitimam a luta pelas suas tristes vidinhas. Se há um governo que gere com admirável mestria estas pequenas misérias é o governo do engenheiro Sócrates com o sucesso manipulativo conhecido e apontado pelos observadores mais atentos (como é o caso, por exemplo, de JPP - aqui e aqui). Sucesso que não seria possível sem o indispensável concurso do jornalismo de causas, confessáveis e inconfessáveis.

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