Portugal é o país mais desigual da UE, com 20% de portugueses mais abonados a terem um rendimento mais de 8 vezes superior aos 20% menos abonados (ver artigo de Miguel Frasquilho no JN).
Não é estranho, num país com reduzida mobilidade social, que o sentimento de injustiça que essa desigualdade gera se tenha visivelmente exarcebado quando o rebentar do escândalo tornou conhecido do grande público os salários e as pensões dos administradores do Millenium bcp. Dir-se-ia que um dos danos colaterais do descrédito da organização privada mais venerada e de maior sucesso do país foi colocar aos olhos de muitos cidadãos o sector privado no mesmo plano do sector público. Com uma diferença: os governos do país, eleitos por milhões de eleitores, não duram em média mais de 2 anos e os governos das empresas, eleitos por umas dezenas de accionistas, que não hesitam em saltar para o colo dos governos ao primeiro susto, duram em média mais de 5 anos.
Ao mesmo tempo que é o país mais desigual da EU, Portugal é o terceiro com o peso dos salários no PIB mais elevado, consequência natural da baixa produtividade que se tivesse a mesma ordem de grandeza da Espanha aumentaria o PIB em cerca de 50%. Ou seja, a desigualdade que se aceita como um preço a pagar por uma economia competitiva é, no nosso caso, um custo social arbitrário gerador de tensões sociais à surdina, por enquanto, e de oportunidades para políticos populistas e trauliteiros, mais tarde ou mais cedo.
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