Luís contra Luís - dois luíses uma só luta
O que evidencia a crise do PSD? O costume. O afastamento do poder é a travessia do deserto para o PSD, como para o PS. À medida que a caravana se afasta do oásis da última passagem pelo governo, aumenta perigosamente a desidratação, desfalecem criaturas, falecem outras, começam as alucinações colectivas, chegam as miragens.
E porquê? Porque, como já muitos disserem e vários escreveram, a presença no governo, importante para todos os partidos, é o oxigénio que respiram os nossos partidos do arco do poder (que raio de expressão). Sem essa presença, não há mordomias nem sinecuras para distribuir, enfraquece a fé e desertam os fiéis. Durante as travessias do deserto sobrevive (mal) o aparelho, dividido por lutas fratricidas na disputa das poucas migalhas que caiem da mesa do orçamento.
Por isso, o fortalecimento do partido no governo, que incha à custa do fortalecimento da enfraquecida fé dos cristãos velhos e da recém-adquirida fé dos cristãos novos revigorada pelas vitualhas que a ocupação do aparelho de estado lhes proporciona, só pode fazer-se à custa do enfraquecimento do partido da oposição, que emagrece irremediavelmente, sem cristão novos e com a deserção en masse dos cristãos velhos.
É preciso esperar pelo cansaço dos eleitores, ele próprio também dependente do esgotamento das vitualhas do orçamento, e pelos primeiros sinais de desgaste do governo para os fiéis do partido da oposição vislumbrarem o longínquo oásis. Nessa altura, o líder de serviço, ou um dos seus challengers, sofrerá uma metamorfose, terá uma visão, e conduzirá as hostes à partilha dos despojos deixados pelo governo anterior.
Foi assim, é assim e assim será. Não há milagres. Levou séculos para chegar aqui, levará gerações para sair daqui. É mau? Já foi pior.
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