01/01/2006

ARTIGO DEFUNTO: sondagens de causas, as favoritas do Expresso

Se temos jornalismo de causas, estatísticas de causas, ciências de causas e, em particular, climatologia de causas, o que nos impede de ter sondagens de causas? Nada, evidentemente. Pelo contrário, estamos num domínio contíguo à futurologia, onde por excelência se perfilam nos horizontes os amanhãs que cantam.

E é de sondagem de causas que trata a campanha a que o Expresso deu voz e que o Impertinências deu pau aqui.

Quando se lê a ficha técnica da sondagem ficamos sem saber qual a técnica de amostragem (amostragem aleatória estratificada? os amigos dos entrevistadores? os frequentadores do Frágil?). Mas ficamos a saber que a dimensão da amostra era de 1.980 indivíduos e apenas 726 (36,7%) aceitaram responder ao questionário. Como seria de esperar, a composição deste segmento não é nada representativa da população, como a própria ficha técnica reconhece, sem que contudo daí sejam retiradas consequências sobre a fiabilidade dos parâmetros da amostra.

Apesar disso, garantem-nos que o erro máximo é de 3,64% com uma probabilidade de 95%. É bastante arrojado, quando se mete na gaveta o facto de não terem respondido 73,3% dos indivíduos que compunham a amostra original (sobre cuja constituição, recorde-se nada nos é dito) .

Especulemos: cenário A - todos os não respondentes eram bichas envergonhadas; cenário B - todos os não respondentes eram heterossexuais que suspeitaram que a abordagem do entrevistador era uma tentativa de engate.

Consequências para o título espampanante do Expresso («Um milhão de portugueses são homossexuais»):

Cenário A - «Mais de sete milhões de portugueses são homossexuais»

Cenário B - «Menos de 400 mil portugueses são homossexuais».

Conclusão impertinente: se a falta de escrúpulo profissional fosse mortal, 88,4% dos técnicos da Eurosondagem e 74,9% dos jornalistas do Expresso já teriam sucumbido, com uma probabilidade de 99%.

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