Ainda se falou pouco dos riscos de derrapagem do projecto da Ota, que deveriam ser razoavelmente evidentes para qualquer alma com um módico de memória do que costuma ser a obra pública neste país.
A gestão privada do projecto não põe os contribuintes ao abrigo dum extorsão complementar a título de custos da incompetência no planeamento e gestão do projecto. Tudo depende de quais os riscos que ficarão do lado do concedente - o estado napoleónico-estalinista.
Para começar, é prudente ficar de pé atrás. Leia-se, por exemplo, a entrevista a O Independente do doutor Vítor Gonçalves Lopes do banco Efisa (o mesmo que propõe que os passageiros da Portela sejam esportulados duma taxa para pagar a Ota), que nos revela que o projecto Ota tem previstos para contingências 193 milhões de euros, ou seja uns astronómicos 7 por cento, que ele garante a Parsons (*) ter considerado suficientes com um grau de confiança de 95%.
Não sei se ria, se chore. Há uns anos tive a oportunidade de constatar que o responsável pela gestão dum projecto de construção de 80 km de auto-estrada não só não sabia qual a margem que estava prevista, como desconhecia os próprios conceitos de contingency margin e float period. Sabendo-se que as obras públicas em Portugal, à custa de cambão, suborçamentação, trabalhos a mais, alterações ao caderno de encargos e outros expedientes, costumam derrapar pelo métodos dos múltiplos, a margem que tranquiliza o doutor Lopes deve deixar aterrados os contribuintes.
(*) Talvez esses parâmetros sejam adequados para os projectos em que Parsons tem participado, mas só por milagre seriam realistas aqui. Vejam-se as suas referências nos projectos de aviação para se perceber que apenas o aeroporto de Atenas lhes poderia acender o desconfiómetro.
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