O Abrupto tem uma parcela de razão quando sublinha os limites ao anarco-voluntarismo subjacente às iniciativas como a Wikipedia. «Demagogia utópica» parece exagerado e deslocado, porque pressupõe um propósito que julgo faltar à Wikipedia, como a muitos desse tipo de projectos que são o resultado da interacção essencialmente espontânea de milhares de pessoas.
O NY Times, citado pelo Abrupto, usa o lamentável caso de John Seigenthaler para demolir a credibilidade da Wikipedia (como quase todos os mídia fazem em relação aos blogues e outras iniciativas que saem do círculo da nomenclatura jornalística). Começa pelo título «Snared in the Web of a Wikipedia Liar», continua na legenda da foto «FALSE WITNESS How true are "facts" online?» e termina no texto, todo ele construído para desacreditar a Wikipedia. Acontece que a Wikipedia, com todas as suas falhas e com os riscos inerentes ao seu processo descentralizado de produção, sem «edição», contém imensa informação útil e frequentemente rigorosa que é impensável encontrar nos jornais, com quem aliás a Wikipedia não concorre, como não concorrem os blogues. Se os mídia receiam a produção de ideias e informação descentralizada e multiforme online não deve ser pela concorrência que lhes fazem. Receio que seja mais por desvendarem aos olhos dos internautas distraídos a falta de qualidade e de profissionalismo recorrentes no jornalismo de causas.
Pode ler-se aqui uma referência mais técnica e mais neutra (por ter menor potencial conflito de interesses) do que a do artigo do NY Times, onde se cita também Jimmy Wales, um dos fundadores da Wikipedia.
Por várias razões, incluindo o facto de ter um acesso gratuito, não pode esperar-se da Wikipedia que seja uma Britannica.
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