06/11/2005

CASE STUDY: a ciência de causas

aqui se tratou do jornalismo de causas, que, nas palavras Baptista-Bastos, é o jornalismo em que «não há factos. Os factos correspondem à visão do mediador, do repórter».

Existe o jornalismo de causas e existe a ciência de causas, em que também «não há factos». O seu mais conhecido pioneiro foi o cientista de causas Lysenko, também já aqui citado. Se Lysenko ainda fosse vivo ficaria orgulhoso dos seguidores e provavelmente surpreendido pela sua visão da ciência lhe ter sobrevivido e ser hoje bastante popular entre os climatologistas politicamente correctos.

Conferência de Lysenko sob o olhar atento de José Estaline

Vem isto a propósito dos vaga-lumes da ciência do politicamente correcto que brilharam na noite da nossa ignorância com a sua ciência das causas dos furacões. Entre os muitos sound bites debitados, um deles parecia um pouco mais aderente ao estado actual do conhecimento do sistema climático. Segundo esses vaga-lumes, verificar-se-ia nas últimas décadas um aumento do número dos furacões e isso seria causado pelo da temperatura superficial do mar, o que parecia condizer com os factos.

Talvez sim, ou talvez não. A equipa do doutor Webster (ver aqui o artigo publicado em 16-09 na Science, ou aqui uma interessante e acessível referência), trabalhando os dados das temperaturas medidas por satélite de 6 bacias oceânicas desde 1970 não encontrou nenhuma relação entre o aumento da temperatura superficial, verificado em todas as bacias salvo no Pacífico Sudoeste, e o número ou intensidade dos furacões, que só aumentou no Atlântico Norte. Não parece, portanto, possível sustentar cientificamente uma relação de causa-efeito, tanto mais que o segundo maior aumento do número e intensidade dos furacões se verificou na bacia Pacífico Sudoeste onde não se registou aumento da temperatura do mar.

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