Depois dum vibrante começo (ver ponto de situação no dia 15-03 aqui), a secção liberal da bloguilha ainda deu mais alguns sinais de vida nos dias imediatos.
No dia 19, o blasfemo RAF escreve «Sobre a constituição de um Partido Liberal», concluindo «o que interessa é trabalhar o liberalismo dentro dos partidos de poder».
O insurgente AAA recomenda a leitura daquele post blasfemo, acrescentando que «não devemos confundir alguns escassos milhares de leitores de blogs e algumas dezenas de bloggers com o país real, para quem o liberalismo continua a ser um papão.» Bem lembrado.
No mesmo dia, o blasfemo Gabriel Silva atira a toalha ao chão e confessa «que nunca terei estofo para ser um infiltrado em organizações defensoras de visões da sociedade que pessoalmente sinto o dever de contrariar».
No dia seguinte, o blasfemo RAF reincide argumentando «ser bem mais viável e efectivo disseminar o liberalismo na comunicação social, nas universidades, e nos partidos de poder, não limitando o raio de acção ao espaço político que seria concedido a um partido de matriz liberal.»
Ainda nesse dia (20) a discussão extinguiu-se com os speakers do Speakers Corner Liberal Social que defenderam que a questão do partido liberal seria sobretudo de oportunidade e de conjuntura política mais do que de princípio.
Talvez ajude contribuir com umas quantas trivialidades para ajudar a trazer o debate de volta à terra.
É claro que o liberalismo, seja lá o que isso for, que pelos vistos é uma coisa para cada liberal, mas que dou de barato que todos concordam o que seja, é uma ideologia, um corpo de ideias contendo uma visão que se pretende coerente sobre a organização política, social e económica.
É claro que a promoção do liberalismo, seja lá o que isso for, não precisa dos partidos, basta-lhe a blogosfera, ou os think tanks, ou a miríade disponível de formas de associação que permitem debater e difundir ideias.
Onde os partidos começam a fazer falta é para passar das ideias à sua aplicação, coisa que até hoje só se conseguiu fazer com partidos, sendo difícil de imaginar como será possível de outro modo.
E se faz falta um partido para disputar o poder e aplicar essas ideias liberais, só há duas maneiras de lá chegar. Ou faz-se um novo quimicamente puro, ou contamina-se um já existente transformando-o num partido (mais) liberal. Parece ter sido o que se passou pela mão de Tony Blair com o partido Trabalhista (ver a propósito a review de The Economist da biografia de Jo Grimond - «Liberal Lion: Jo Grimond, A Political Life»)
Chegados a este ponto, e recordando as sábias palavras do iliberal Von Bismarck, visto que a política é a arte do possível, é altura da pergunta fatal: um partido de pendor liberal será viável aqui e agora?
Dependendo do grau de inclinação liberal, pessoalmente tenho imensas dúvidas, como já por aqui escrevi inúmeras vezes. Para citar uma só dessas inúmeras: «Serão (seriam) precisas gerações para corroer este amor extremado ao estado e esta desconfiança da livre iniciativa e do mercado enterrada nas entranhas de cada português. É por isso que os liberais, esses linces da serra da Malcata da política, terão que continuar a escolher o mal menor até ao fim dos tempos.»
O colectivismo que enforma a cultura portuguesa é refractário ao liberalismo. Isso explica o «partido do estado» de que falou Medina Carreira e explica até a trivial tragédia do falhanço do auto-governo dos condomínios a que se referiu o insurgente João (ver aqui).
(Continua. Talvez)
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