16/12/2004

BLOGARIDADES e SERVIÇO PÚBLICO: O bendizente.

A família e os amigos criticam-me por ser um maldizente, dizem. Pelo menos um deles já me chamou de jeremias. Se posso aceitar, com algum esforço, o maldizente, quem me adjectivar de jeremíaco tenho que transferi-lo para a categoria de inimigo. Quando riposto, apontando exemplos de bem dizer de uma coisa, logo me respondem que, se por excepção o faço, é para ter o pretexto de correr a falar mal de outra.

Quando se aproxima o Natal, aumentam a pressão para dizer bem - "ao menos uma vez na vida", aconselham. [Tomo consciência, neste preciso momento, que existindo a palavra maldizente, não existe o seu antónimo natural bendizente. Alguma razão haverá.]

Tal como a morte política do doutor Lopes, a minha suposta maledicência é grandemente exagerada, como podereis constatar.

Vem isto a propósito do lúcido post (cá está, cá está o bendizente) «mourinhar» do maradona (com minúscula) que, a pretexto desse imigrado genial e mal-amado (cá está, cá está, outra vez, o bendizente) , põe o dedo na ferida do culto nacional da mediocridade.

Vem isto a propósito do esclarecido post (cá está, cá está, uma vez mais, o bendizente) «Para entender a relação entre educação e desenvolvimento» do blasfemo João Miranda, que desmonta em duas penadas a argumentação dos idiotas que defendem que o investimento na educação formal vai resolver os problemas do atraso tecnológico, do crescimento, da produtividade, da iniciativa empresarial, etc. antes do fim duma qualquer próxima legislatura.

Vem isto a propósito do corajoso discurso (cá está, cá está, ainda outra vez, o bendizente) do secretário de Estado adjunto do MAI que disse do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil o que Maomé não disse dos chouriços:
«com o devido respeito por todos os que andam aqui há muito anos e que sabem muito mais do que eu sobre isto tudo, sinceramente vos digo, como cidadão e como português, envergonho-me do sistema que temos».
Eu, se me permitem, direi mesmo mais: também me envergonho e não tenho nada a ver com esses parasitas crapulosos, há décadas pendurados no dito sistema que, como se sabe, não é mais do que uma teta da pletórica vaca marsupial pública.

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