Caro senhor professor Salazar,
Começo por pedir que me releve o atrevimento de lhe escrever uma carta aberta, expediente que eu próprio já tinha classificado - levianamente, confesso - de «grande falta de vergonha».
É com alívio que tomo conhecimento do seu regresso, após quase 40 anos de ausência. Os portugueses merecem-no, cada vez mais, e o senhor professor merece-os desde sempre. Bem haja por ter regressado ao nosso convívio.
Aproveito para expressar o quanto me sinto honrado por incluir o Impertinências na sua secção «Deus nos livre!». Honrado, mas ao mesmo tempo, embaraçado. Com o devido respeito, senhor professor, tal Secção eu classificaria de albergue espanhol pela promiscuidade com que abriga criaturas que nunca coabitariam sob o mesmo tecto.
Sem querer ser pobre e mal agradecido, peço-lhe encarecidamente, senhor professor, que não me arrebanhe junto com as criaturas dos alterblogues (Barnabé, Blogue de Esquerda, entre outros da mesma família). Essas criaturas ficariam bem melhor na companhia do senhor professor, partilhando o mesmo criogénio onde se conservam.
Atento, venerador e grato
Pede deferimento
O Impertinente
Post scriptum:
Dou-me conta, com preocupação, que não incluiu o blogue O Anacleto no seu albergue «Deus nos livre!». É uma lacuna imperdoável que o exorto a colmatar quanto antes.
Admito que o senhor professor, apesar da sua imensa sapiência, desconheça o que seja um albergue espanhol. Poderá imaginar ser a pensão onde poderia ter ficado quando da sua única saída da Pátria para visitar o Generalissimo. Mas não é essa pensão. Para poupar explicações direi apenas albergue espanhol é uma coisa parecida com a «oposição ao regime» que senhor professor tão bem conheceu e a quem mandou dar uns «safanões» só para manter o respeito.
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