27/07/2004

ESTÓRIAS E MORAIS: O director-geral de impostos clandestino.

Estória

O doutor Paulo Macedo é um quadro do BCP que foi nomeado director-geral de impostos pela ex-ministra das Finanças. Foi um processo bastante atabalhoado e a sua posse decorreu na clandestinidade. Poucas vozes se tinham levantado protestando os magros resultados alcançados pelos seus antecessores, que de tão minguados tornavam excessivo, em termos relativos, até o salário mínimo. Mas muitas vozes  se fizeram ouvir, criticando o elevado salário que iria ser pago ao novo director-geral. Apesar disso, pela primeira vez em muitos anos, parecia ter sido encontrado um director-geral com as competências adequadas e, pela primeira vez este século, e talvez em todos os anteriores, os sindicatos e, pasme-se o doutor Saldanha Sanches, reconheceram no homem méritos e até alguns resultados visíveis em apenas 2 ou 3 semanas.

Extinto o governo que o nomeou, o actual tratou logo, com a inesgotável incontinência do primeiro-ministro indigitado de fresco, de lhe tirar o tapete debaixo dos pés. Quando chegou a sua vez, o ministro das Finanças pareceu mais preocupado em ver-se livre do homem do que aproveitar-lhe as competências (ver aqui).

Resultado mais que provável: o doutor Macedo voltará às origens, onde mesmo após a destruição de valor a que o BCP se dedica há 3 ou 4 anos estará muito melhor e, sobretudo, ficará livre da sarna que invade a administração fiscal.

Muito a propósito, o doutor Sérgio Figueiredo comparou a baderna à volta do director-geral de impostos com um «problema parecido ... com a presidência da British Steel - um verdadeiro cancro financeiro» que Maggie Tatcher enfrentou na Câmara dos Comuns chamando os bois pelos nomes e explicando que «o gestor foi recrutado num processo de "executive search" entre cinco candidatos; a sua remuneração era efectivamente elevada, mas condicionada à obtenção de resultados pré-fixados; e, cumprindo objectivos, um ano da folha salarial do dito CEO era igual a uma semana de prejuízos da empresa. O assunto ficou ali morto e enterrado

No nosso caso, nada morre e se enterra com essa facilidade. Os moribundos custam a ficar cadáveres e quedam-se insepultos, fedendo, uns tempos. Por trás de cada cadáver há uma endemia sem remédio que contamina a administração pública

Moral
Dentro de um pequeno problema há sempre um grande a tentar vir ao de cima. (Lei de Doll)

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