04/05/2004

CONDIÇÃO MASCULINA / STATE OF MEN: Travesti – o futuro do homem / Transvestites – the future of men.

Summary for the sake of
Luís Fernando Veríssimo, Brazilian writer Erico Veríssimo’s son, wrote in his weekly column that men are hopeless – something those more lucid members of the gender know for a while. Besides and even more serious, men will be soon also useless, Mr. Verissímo swears - something that even the more cynical guys didn't realize, yet.
In the end, spermatozoon will be produced in vitro and women can discard their guys. Out of the remains what should be closer to men are transvestites, a sort of men in captivity, he told us.
Fellows, ask your wifes to stop throwing away their old-fashioned dresses. You may need them.


Desta vez não foi a limpar as pratas que me apercebi da Única esperança do filho do Erico Veríssimo. Não foi a limpar as pratas, nem podia ser. O papel do caderno Actual do Expresso não é bom para isso, explicou-me a Patroa.
Assim falou Veríssimo filho:

«Única esperança
Defendo a tese de que a única esperança para a sobrevivência do género masculino sobre a Terra é o travesti. Se não fosse o travesti, estaríamos condenados à extinção em 20, no máximo trinta anos.
Já existem técnicas de reprodução humana em que um óvulo é fecundado com outro. Como o aperfeiçoamento destas técnicas permitirá um controle genético inalcançável por outros meios, o espermatozóide gradualmente perderá sua função no processo de procriação, e sua razão de ser. E quem fornece espermatozóides, com exclusividade, no mundo somos nós, machos. Estamos aqui para isto. A nossa função e razão de ser é esta. É verdade que, enquanto produzíamos os espermatozóides, fizemos outras coisas. Civilizações, sistemas filosóficos e jurídicos, pontes, represas, o teto da Capela Sistina, etc. (E desenvolvemos o processo suicida que dispensa o macho na reprodução da espécie). Mas tudo isto foi actividade secundária. Nosso negócio principal, transmitido de pai para filho desde o ano zero, é espermatozóides. E somos um monopólio em vias de descobrir que não há mais mercado para o nosso produto.
Não há o que fazer. Não podemos adaptar a planta para produzir outra coisa. Com o tempo, quando a própria Natureza se der conta de que somos um género supérfluo, começarão a nascer mais produtoras de óvulos do que homens. E cedo ou tarde as mulheres se perguntarão para que servem os poucos homens que sobrarem. As profissões tradicionalmente masculinas - leão de chácara, estivador, «chef», zagueiro central - ou serão automatizadas ou ocupadas por mulheres. Como parceiros sexuais, seremos facilmente substituíveis, também pela automatização ou por outras mulheres. O que impedirá as mulheres de começarem a eliminar os machos ao nascer, para evitar o estorvo e o custo da sua inutilidade?
Os travestis. Eles serão os últimos depositários das graças femininas em desuso. Manterão vivos o coquetismo, a futilidade estabanada, a inocência provocadora e tudo que os homens de outra era chamavam de feminilidade - e que nenhuma mulher, ocupada em ser dona do mundo, conseguirá parodiar tão bem. E garantirão a sobrevivência do nosso sexo, nem que seja no cativeiro.
»
(Luís Fernando Veríssimo, «Meu fantasma do Goya», na sua coluna «Do lado de lá» no Expresso de 1 de Maio)

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