Summary for the sake of
Domestic affairs.
Seguindo o mau costume dos políticos domésticos falarem dos assuntos internos no estrangeiro, o presidente da República deu uma indirecta ao governo, num seminário em Cabo Verde com empresários dos dois países. Disse o doutor Sampaio, que Cabo Verde cumpre, «na globalidade, as condições do Pacto de Estabilidade, que tantas dores de cabeça provocam em Portugal, conseguindo, mesmo assim, alcançar taxas de crescimento económico elevadas».
Acontece que aquele país, para o qual tive a oportunidade de trabalhar meia dúzia de anos, e os seus problemas têm tanto a ver com Portugal como um gafanhoto (uma espécie abundante naquelas ilhas) tem a ver com o lince da serra da Malcata (uma espécie da qual os fanáticos do ambiente já só se encontram os excrementos).
Por razões fáceis de compreender (ver, por exemplo, o survey do Banco Mundial sobre Cabo Verde) não faz qualquer sentido comparar com Portugal um país com uma população residente que é metade da cidade de Lisboa, um PIB per capita que é um décimo do português, um rendimento disponível total inferior ao dos eleitores alfacinhas do Bloco de Esquerda, um país cujo consumo privado é 3% superior ao PIB, isto é consome mais do que produz, e que exporta 32% do PIB e importa 68%.
É claro que o orçamento do governo de Cabo Verde é, nalguns anos, equilibrado e até com superavit, porque entre as receitas se incluem donativos da ajuda bilateral e multilateral. Aliás, o total anual destes donativos ultrapassa frequentemente as receitas correntes do governo.
Não haverá ninguém na Casa Civil do presidente da República capacitado para o poupar a fazer figuras tristes?
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