Summary for the sake of
Three years ago, in North Portugal a bridge over river Douro collapsed. Since years inspections had been performed and had been showed evidence of gradual removal by the water flow of the bottom sands embracing the pillars.
One day, in March 2001, the bridge eventually collapsed throwing a bus with sixty people within into the river and killing most of them.
Last week a judge decided that the bridge collapse had natural causes. Possibly he meant that is natural for a bridge to collapse eventually one day.
«O juiz de instrução criminal de Castelo de Paiva concluiu que a ponte Hintze Ribeiro caiu por causas naturais» (ver aqui, por exemplo).
Praticamente todas as forças vivas, como se chamavam no tempo do doutor Salazar, se pronunciaram sobre o assunto invocando escândalos, vergonhas, culpas solteiras, solidariedades, justiças, com a possível única excepção do doutor Mário Soares, ocupado no combate ao fascismo nos Estados Unidos. Única excepção? Não. O Impertinências, ocupado com outros combates, também passou ao lado da ponte.
É agora altura de dizer que todas essas reacções acaloradas são pura retórica, nuns casos, e hipocrisia, noutros.
Concordo com o senhor doutor juiz de Castelo de Paiva. As pontes em Portugal caiem ou cairão algum dia, como qualquer outra obra cai ou cairá, por causas naturais.
Repare-se que o douto juiz não escreveu no seu despacho «caso de força maior», isto é ele não quis dizer «facto cuja verificabilidade não era razoavelmente previsível e cujos efeitos não podiam ser evitados», ou act of god, na doutrina anglo-saxónica. No espírito esclarecido do juiz, deus não era para ali chamado. Ele escreveu causas naturais, mostrando grande sabedoria e um profundo conhecimento da alma nacional.
Toda a gente de bom senso sabe perfeitamente que é da natureza das pontas caírem, mas tarde ou mais cedo. Porque não haveria de cair a de Hintze Ribeiro?
Veja-se o que se passou com as pontes romanas, por exemplo. Das centenas que as legiões construíram, quantas restam hoje?
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