É o que acontece comigo, desconfio. Desconfio quando leio aqui que o governo e o PS, pelas bocas da doutora Manuela e do doutor Costa, respectivamente «mostraram-se hoje (ontem) disponíveis no Parlamento para alcançar consensos em matéria de actualização do Programa de Estabilidade e Crescimento para o período de 2004/2007 já apresentado a Bruxelas mas que pode receber ainda alterações até ao início da próxima semana».
Não desconfio que eles se mostraram. Mostraram-se. Estavam na montra. Não desconfio que estavam disponíveis. Estar disponível é uma atitude. Fazer qualquer com coisa com essa atitude – actuar – isso é bastante diferente. Até não desconfio que pretendessem alcançar consensos (ver no Glossário este novo termo politiquês).
Começo a desconfiar quanto ao até ao início da próxima semana, que numa 5ª feira à tarde significa, em rigor, chegar a consensos no dia seguinte. OK, estamos em Portugal, vá lá, significa chegar a consensos antes do fim da próxima semana. Ainda assim, só se forem mesmo consensos.
Um acordo vinculativo concreto, com acções, calendário, quantificado, com quem faz o quê e quando, com que meios, isto é um programa, isso é melhor esquecer. OK, estamos em Portugal, vá lá um acordo vinculativo com os objectivos orçamentais críticos: crescimento das despesas correntes, das despesas com o pessoal, redução dos efectivos, e umas outras miudezas. Continuo a desconfiar.
Afinal quem é que acredita que o governo queira de facto ouvir e negociar com o PS? Quem é que acredita que o PS, depois da confusão entre o pEC (programa) e o PEC (pacto), esteja preparado para fazer um negociação realista e responsável? Quem é que acredita que governo e oposição não estão a fazer o frete, só para eleitor ver, de fingirem que ligaram ao que propôs o presidente da República e a dúzia de luminárias com procuração presidencial (tipo bloco central dos economistas)?
Eu não acredito. Chamem-me o que quiserem, mas eu não (à cautela, só se Cristo voltar à terra).
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