Estória
As viagens do Dr. Pacheco Pereira são uma oportunidade excelente para o Impertinente mergulhar no Abrupto, nas suas fossas de Mindanau no formato blogue. A expedição em curso é ao piton da la Fournaise. Arrebatado pelo vulcão, JPP moderou a sua produção e o Impertinente regalou-se na pesca às pérolas sem forçar demasiado o pulmão.
Desta vez, encontrei uma deliciosa e elucidativa carta de Eça para Oliveira Martins - uma desavergonhada cunha do primeiro ao segundo, a favor dum sobrinho para que este venha a ser engenheiro, sem nada saber dos impossíveis físicos e metafísicos ... e ... aprovado em todas essas matérias que o Estado lhe fez decorar, que ele decorou com paciência e submissão, mas que, no momento preciso, lhe podem esquecer - como todas as coisas que a gente sabe só de cor, e só em obediência ao Estado!
Pela amostra se percebe a diletantismo com que Eça discorre sobre a imbecilidade da pedagogia nacional, como ele escreve, e conclui que a cunha, a que chama com eufemismo empenho, é o correctivo do bom senso público aplicado ao disparate oficial.
Para além do excelente exercício literário que é esta carta de Eça, o Impertinente vê nela o paradigma do drama de um povo cujos eméritos filhos sucumbem com tanta elegância às mesmas práticas sociais que deploram na choldra, acima da qual as luminárias julgam pairar.
Moral
Esta gente não tem que cair, porque não é um edifício; tem que sair com benzina porque é uma nódoa, escreveu Eça de Queiroz, obviamente não se reconhecendo como alvo da benzina.
NOTAS:
(1) Esta pérola epistolar imperdível pode ser lida integralmente em PARA UMA ANTOLOGIA DA CUNHA EM PORTUGAL: EÇA DE QUEIRÓS PARA OLIVEIRA MARTINS, posting do dia 25-10 às 13:33 no Abrupto.
(2) As Impertinências passam ter um link ao Abrupto - um tributo ao mestre e um expediente prático para facilitar o acesso ao Armazém de Artes & Letras.
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