Ainda abalado pela notícia do casamento anunciado da Doutora Amélia, só por obrigação presto contas da expedição, ou, diria a saudosa que estudou na Sorbonne, faço um enfastiado compte rendu.
Em S. Lourenço de Mamporcão, uma aldeola a caminho de Portalegre, com umas 2 centenas de famílias, 43 viúvas e apenas 1 viúvo, tive oportunidade de entrevistar várias pessoas, incluindo e nomeadamente 31 das 43 viúvas. Tentei também o viúvo, mas a sua completa surdez tornou a comunicação pobre, porque a linguagem gestual da criatura era muito limitada – praticamente só usava o dedo indicador para tentar significar o seu desinteresse já antigo pela matéria.
Ao contrário do que um citadino empedernido como o Impertinente poderia pensar, as viúvas inquiridas mostraram um surpreendente interesse e conhecimento da mecânica e geografia sexuais, com preferências por práticas bastante chocantes, ainda que na maioria dos casos não consumadas.
Apesar de nenhumas delas ter ouvido falar do Pipi, e muito menos ter lido a sua obra, aliás 3/4 são analfabetas, falaram com grande desembaraço do tema, como se conversássemos da melhor maneira de preparar as migas ou o cação com coentros. Foi uma oportunidade de confirmar as minhas suspeitas de que comida e sexo têm um profunda ligação.
Curioso por saber a fonte de tamanha ciência, lá consegui descobrir, por entre risinhos maldosos, que era a revista Maria, que as viúvas com letras liam para as iletradas, em sessões muito concorridas, no meio dum imenso chavascal de aplausos, apupos, gritos, suspiros, uivos e gemidos, segundo as suas próprias palavras. Perante o meu ar duvidoso, algumas delas sacaram do bolso do avental o último número da Maria, procuraram nas páginas já ensebadas e lá ouvi, com o rubor nas faces impertinentes, cartas de leitoras relatando os sacrifícios a que se obrigavam para reter os marmanjos dos seus namorados e maridos, mas também as delícias confessadas de outras com as prestações dos seus amores ou comoventes dúvidas de como consolar os seus próprios corpos carentes. De tudo um pouco.
Instruído com esta visão do Portugal profundo, o Impertinente ainda teve tempo de visitar a uma hora respeitável, antes do bulício nocturno, um estabelecimento de strip misto situado à beira da estrada entre Borba e Vila Viçosa, recomendado por duas das ousadas viúvas. A conversa com a gerência – um casal alternativo com práticas sexuais vagabundas - foi muito esclarecedora. Fiquei a saber que o seu negócio prosperava a olhos vistos, e eram muitos os esbugalhados todas as noites apreciando o exaltante espectáculo.
É por estas, e por outras, é que se recomenda aos intelectuais, aos políticos, aos artistas, e em geral às nossas iluminadas elites pelo menos uma visita por ano aos habitates dos indígenas que povoam o nosso Portugal profundo. Devemos ser nós, quer dizer vós, porque eu já fui, a ir até eles e não os jornalistas das Time ou outras revistas mundializantes que, por incompetência ou maldade, deturpam nos seus relatos os usos e costumes da nossa terra e dão uma ideia errada da alma do nosso Povo.
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