0. Introdução
A semana passada esteve em Lisboa o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton para participar na conferência sobre Os novos desafios da globalização e a crise de valores comuns. A sua presença agitou as nossas luminárias politicamente correctas (ver, por exemplo, a Pluma Caprichosa da Dr.ª Clara Ferreira Alves no 39º caderno da edição n.º 1617 do semanário do saco de plástico) com indisfarçáveis frissons, suores frios, rubores e tremores nas perninhas.
Comemorando a passagem do Dr. Clinton, o Impertinente à míngua de tempo, ocupado a cumprir o mandado da Doutora Amélia para o arrumo do Glossário, desenterrou da sua mina de produções antigas pré-blogue – quase tão profunda quanto as fossas abissais do Abrupto - o texto seguinte, que, ligeiramente adaptado, serve perfeitamente para encher a hora a mais que ganhámos este domingo.
1. O que é a teoria do caos?
A teoria do caos tenta descrever os sistema caóticos. Um sistema caótico, segundo Gollub & Solomon, é definido como um sistema sensível às condições iniciais. Isto é, qualquer incerteza, por menor que seja, no estado inicial dum sistema conduzirá rapidamente a erros cada vez maiores na previsão do seu comportamento futuro. ... O seu comportamento só pode ser previsto se as condições iniciais foram conhecidas com grau infinito de precisão, o que é impossível.
Entre os exemplos mais óbvios de sistemas caóticos podemos apontar a meteorologia (não por acaso, chove 9 em cada 10 vezes que saímos sem chapéu de chuva), e as sociedades humanas (não carece de explicação).
Como a teoria do caos só é inteligível por mentes superiores, os cientistas do caos inventaram uma vulgata para a tornar acessível aos seres humanos comuns. De acordo com essa vulgata, os sistemas caóticos são caracterizados por pequenas causas poderem dar lugar a grandes efeitos, sendo o exemplo mais comum o do bater de asas duma borboleta em Pequim poder desencadear uma furacão nas Caraíbas, através duma sequência causal e de interacções complexas no sistema atmosférico.
Também poderíamos dizer, de uma forma abreviada, que é como se um rato parisse uma montanha.
2. O estado inicial do sistema
Em 17 de Janeiro de 1998 o presidente Bill Clinton tornou-se o primeiro presidente americano em exercício a depor como arguido num processo civil, acusado de assédio sexual por Paula Corbin Jones. Na investigação deste caso surgiram indícios (charutos, vestidos manchados com sémen presidencial, etc.) dum outro caso com Monica S. Lewinsky, que tinha sido estagiária na Casa Branca entre 1995–96. No depoimento de 17 de Janeiro, Clinton negou que tivesse tido qualquer caso com Monica. Nos meses seguintes as provas reunidas pelo procurador Starr foram-se avolumando e em 17 de Agosto, Clinton foi à televisão pedir perdão ao povo americano e confessar que tinha tido de facto um caso com aquela mulher. Eu lembro-me que o perdoei imediatamente, porque foi no dia do meu aniversário, e estávamos os dois muitos carentes.
Eu perdoei, mas muitos americanos não o fizeram. A falta de perdão contaminou Al Gore que perdeu as eleições para o George W. Bush (ver outras versões sobre o verdadeiro resultado das eleições em http://www./newleftpath.org/makenomistakeaboutelection2000truewinner.htm.
3. A evolução do sistema
Em 31 de Outubro de 1998 o Congresso americano aprovou o Iraq Liberation Act que estabeleceu como política oficial dos EU apoiar os esforços para remover do poder no Iraque o regime chefiado por Saddam Hussein e para promover a emergência de um governo democrático para o substituir e atribuiu ao presidente Clinton vários poderes para pôr em prática essa política (ver texto do Acto).
O próprio Bill Clinton na cerimónia de assinatura do Acto, em 2 de Novembro, enfatizou que Os EU querem que o Iraque se junte à família de nações como um membro amante da liberdade e respeitador da lei. Para eliminar qualquer dúvida, Clinton acrescentou Isto é no nosso interesse e no interesse dos nossos aliados na região.
Embaralhado nas trapalhadas com a estagiária Monica, Bill Clinton perdeu toda a iniciativa política, tornando-se inviável qualquer acção ao abrigo do Iraq Liberation Act. Embora nunca possamos vir a ter a certeza, podemos especular, como o Prof. Freitas do Amaral, que, se tal não tivesse acontecido, Saddam Hussein poderia ter sido persuadido por meios pacíficos a abdicar, abrindo o caminho à democracia no Iraque. Afinal o homem até se revelou uma alma sensível capaz de escrever Zabiba e o Rei» (podemos ver a fundamentação desta tese em http://www.dfa.pt/opresidentesaddameoestadodedireito.htm)
4. O comportamento futuro (agora já passado)
Quando em 11 de Setembro de 2001 se deu o atentado ao WTC, George W. descobriu que, afinal, existia vida noutros continentes. No final das orações que antecederam a reunião no dia seguinte no Gabinete Oval (que durante o mandato de Clinton se tinha chamado Gabinete Oral), Deus falou a Bush pela boca do Donald Rumsfeld (a cuja orelha estava encostada a boca de Paul Wolfowitz) e revelou-lhe o Eixo do Mal. À cabeça dos Estados Párias, disse Deus, está o Iraque de Saddam, o de Tikrit (ver em http://www./newleftpath.org/thenewfascistsentrenchedinwhitehouseandthewtcplot.htm o white paper do Prof. Noam Chomsky, sobre que se passou naquele dia fatídico).
A partir daí é bem conhecida a sequência causal e as turbulências laterais que vieram a desencadear a famosa operação Shock and Awe.
5. Onde está a borboleta?
Chegados a este ponto, estamos preparados para usar a teoria do caos e responder à pergunta: qual foi a causa primitiva da operação Choque & Cagaço?
Uma resposta provável (cfr. o princípio da incerteza da mecânica quântica): o presumível fellatio de Monica S. Lewinsky.
Mas, segundo Gollub & Solomon, nem mesmo o presidente e a estagiária poderiam ter previsto os subsequentes estados do sistema porque, turbados pela luxúria, não conseguiriam lembrar-se com grau infinito de precisão o que se passou nessa tórrida tarde do verão de 1996.
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