17/10/2025

Mudam-se os tempos mudam-se os expedientes. O Reductio ad Hitlerum dá lugar ao Reductio ad Sinistram e ao Reductio ad Activismum

O ideário da esquerda, que no pós-guerra tem dominado até recentemente o condicionamento da opinião pública das democracias ocidentais, recorreu sistematicamente ao expediente designado por Reductio ad Hitlerum para classificar como fascista qualquer ideia ou pessoa desalinhada com esse ideário.

Agora que esse ideário vem perdendo influência na opinião pública, e a um ritmo mais lento nos mídia, em benefício de um ideário de direita, começa a emergir nos meios da direita um expediente semelhante de classificar como esquerdismo qualquer dissidência em relação ao actual credo oficial da direita. 

Baptizo esse expediente de Reductio ad Sinistram ou Reductio ad Activismum. Para se entender melhor o que quero significar, dou alguns exemplos. Uma criatura que defende o direito dos judeus a terem o seu Estado e a garantirem a sua segurança - para simplificar, um amigo de Israel - que critique as políticas e os abusos do governo de Israel é automaticamente classificada como esquerdista e inimiga dos judeus. Outra criatura, crítica do ideário e das práticas designadas como "woke", que não aceite que as instituições democráticas sejam usadas para adoptar práticas da direita semelhantes a pretexto de as combater, arrisca-se a ser classificada como esquerdista e até "woke". 

O mesmo expediente é usado pelos devotos de um ideário (de direita ou de esquerda) para classificar uma criatura que tenha uma visão crítica das práticas do líder que corporiza esse ideário, por muito idiota, sem escrúpulos, desonesto ou incompetente que esse líder seja, atributos que de resto a esmagadora maioria dos devotos, cegos pela sua devoção, não reconhece.

Uma pequena maioria a quem resta alguma lucidez, reconhecendo que as fraquezas do líder, nem por isso deixam de usar o mesmo expediente em público, embora em privado possam reconhecer  que «he may be a son of a bitch, but he's our son of a bitch», adoptando assim o que aqui no (Im)pertinências baptizámos há muitos anos de Doutrina Somoza, inspirados no facto - facto provavelmente falso ou alternativo, no sentido de Mrs Conway -, do presidente Franklin D. Roosevelt ter dito isso mesmo em 1939 a propósito do apoio ao ditador Somoza.

2 comentários:

  1. «Agora que esse ideário vem perdendo influência na opinião pública»

    Falso. Ainda anteontem o Gonçalo Sousa foi despedido pela RTP por ter, em tempos, feito "comentários inaceitáveis".


    «Outra criatura, crítica do ideário e das práticas designadas como "woke", que não aceite que as instituições democráticas sejam usadas para adoptar práticas da direita semelhantes a pretexto de as combater, arrisca-se a ser classificada como esquerdista e até "woke".»

    Práticas semelhantes? Que discurso é que a Direita ilegalizou, exactamente? Que universidades é que a Direita controla? Quem jornais, televisões e rádios? Excluindo o caso da Hungria, qual é o governo ou instituição de Direita que está a tentar impor hábitos e costumes como a Esquerda continua a impor? Quem é que a Direita despediu só por ser de Esquerda?

    Despedir um professor por ele ter passado uma carreira inteira a papaguear a ideologia de género não é despedi-lo por se de Esquerda, é despedi-lo por ele se ter apoderado da coisa pública para doutrinar em vez de ensinar. Trata-se de castigar o incumprimento das funções de professor, não a ideologia em si. Não é sequer concebível que o (Im)Pertinente não entenda a diferença. Remover ideologia das instituições não é o mesmo que promover ideologia nas instituições.

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    1. Reescrevendo a última frase de uma forma mais clara: temover a ideologia de Esquerda das instituições não é o mesmo que promover ideologia de Direita nas instituições.

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