Desta vez a paródia «Bem unidos façamos ó-ó» não só tem graça como desanca a estupidez de um exemplo bovino de wokeism de algumas universidades americanas para proteger do impacto trumpista as tenras meninges dos patetas que lá estão inscritos. Desta vez, RAP tem graça e não disfarça a agenda - é uma causa justa e por isso lhe relevo o humor de causas.
«Em 1957, nove alunos negros inscreveram-se na escola secundária de Little Rock, no Arkansas. Eram, como é evidente, menores de idade. O governador do Estado não aceitou o fim da segregação racial nas escolas e impediu a entrada dos estudantes. Por isso, o Presidente dos Estados Unidos mandou a tropa. Protegidos pelos militares, os nove alunos negros, que ficaram conhecidos pelos Little Rock Nine, entraram na escola, embora sob insultos e agressões dos segregacionistas. Melba Pattillo Beals, que pertencia a esse grupo, relatou a experiência no seu livro “Warriors Don’t Cry” (“Os Guerreiros Não Choram”). O primeiro capítulo começa assim: “Em 1957, enquanto a maioria das raparigas adolescentes ouvia ‘Peggy Sue’ de Buddy Holly, (...) eu estava a escapar da corda de enforcamento de um grupo de linchadores, a desviar-me de barras de dinamite acesas e a lavar ácido corrosivo que me tinham atirado para os olhos.”
No dia 9 de Outubro de 2012, Malala Yousafzai decidiu ir à escola, no Paquistão. Era, como é evidente, menor de idade. Os líderes do movimento talibã, que tinham decretado o fim da educação feminina, decidiram, por unanimidade, matá-la. Por isso, nesse dia, depois de sair da escola, no caminho de regresso a casa, Malala levou um tiro na cabeça.
No dia 6 de Novembro de 2024, alguns estudantes universitários decidiram não ir à escola. Eram, como é evidente, adultos. Algumas universidades, como Harvard e a universidade da Pensilvânia, cancelaram aulas, para que os alunos pudessem lidar emocionalmente com a vitória eleitoral de Donald Trump, no dia anterior. Na Universidade de Georgetown foi disponibilizada aos alunos da McCourt School of Public Policy uma “Self-Care Suite”, ou seja, uma sala de autocuidado, que oferecia actividades como brincar com Legos, pintar livros de colorir com lápis de cera e comer bolachinhas com leite.
As pessoas que lutam contra a opressão sempre me repeliram. Lutar aleija. Requer sacrifícios, o que é desagradável. Quando quem luta é um menor de idade que se comporta como um adulto, a minha vergonha é maior, porque sempre fui um adulto que se comporta como um menor de idade. É, por isso, um alívio verificar que, finalmente, vivo num mundo à minha medida. Percebo que vêm aí tempos difíceis e já me pus numa posição de luta — também conhecida como posição fetal. Vou buscar o meu ursinho e preparar-me para quatro anos de intenso combate.»
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