28/08/2024

Iniciámos um novo curto ciclo de sismorreia

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Menos de dois dias após o sismo da madrugada do dia 26 os mídia do Portugal dos Pequeninos publicaram quase 19 mil "notícias" sobre o evento, a maior parte delas misturando ignorância com pensamento mágico. Quanto aos pensamentos mágicos, os mais frequentes são: o Estado deveria resolver o problema (não é novidade, a maioria dos tugas espera que uma entidade especializada em criar problemas, os resolva); vamos fazer edifícios anti-sísmicos (como se, de repente, ao ritmo de 20 ou 30 mil edifícios construídos por ano em Portugal isso tivesse algum peso significativo nos 3,6 milhões que já existem) e, last but not least, o Estado (lá está, sempre ele) deveria criar um fundo sísmico, uma ideia recorrente há décadas de que se fala cada vez que há um abalo e que se esquece poucos dias depois.

Desta vez não foi excepção e o governo do Dr. Montenegro fez o costume e encarregou a ASF (a autoridade reguladora para os seguros e fundos de pensões) de produzir o enésimo relatório preliminar com vista à criação de um fundo sísmico, abrangendo seguradores e Estado, eventualmente usando também o mercado internacional de resseguro, tornando obrigatória a cobertura do risco sísmico por forma a garantir a mutualização do risco em todo o Portugal dos Pequeninos. 

É esta a ideia, que tem um pequeno problema. Pressupõe uma volumosa entrada inicial de capital do Estado (*) que será paga com mais impostos (ou com menos despesa) para uma iniciativa que, não dando votos e estando o susto sísmico esquecido numa semana, qualquer governo chutará para um futuro o mais possível indefinido e longínquo. That's it.
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(*) As estimativas mais moderadas - ou irrealistas - apontam para vários milhares de milhões, ou seja uma "ajuda" à TAP, mas desconfio que seria mais prudente contar com um montante da dimensão do custo do aeroporto Luís de Camões. Ainda assim, direis, seria dinheiro bem aplicado para garantir os meios financeiros de um mecanismo para recuperar os danos de sismo comparável ao de 1755 (8,2 pontos na Escala Richter). Pois seria, mas enquanto os dinheiros para a TAP ou para o novo aeroporto satisfazem, certo e sabido, lóbis poderosos, os dinheiros para o fundo sísmico ficariam congelados sem render quaisquer dividendos políticos à espera de algo com um período de recorrência de décadas ou mesmo de séculos (o sismo de 1755 tem um período de recorrência estimado em séculos) que quando ocorrer qualquer político de meia tigela não terá dificuldades em responsabilizar os outros partidos e arranjar dezenas de desculpas para o seu.

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