Mais do que diferentemente, ao contrário da narrativa histórica dominante, o declínio de Portugal não começa na Idade Média, não resulta directamente dos descobrimentos, só começa em meados do século XVIII e tem causas económicas e políticas.
Um factor económico determinante desse declínio é o que Nuno Palma designa como a "maldição dourada" e a que dedica um capítulo longo de 50 densas páginas. Registe-se que esta maldição é um caso particular da chamada maldição dos recursos naturais, que ao longo da história fez várias vítimas, uma das mais recentes os Países Baixos dos anos 70 com a abundância de reservas de gás, de onde a maldição ser também conhecida como "doença holandesa". (*)
No caso português foram as gigantescas quantidades de ouro de Minas Gerais no Brasil que chegava a Portugal já cunhado em moedas apropriadas pelo rei e por uns milhares de cortesãos. Esse dilúvio monetário inflacionando o preço dos bens produzidos em Portugal tornou mais barato a importação e mais cara a exportação, aumentando o défice externo e destruindo pelo caminho uma indústria incipiente com alguma importância nos têxteis, sabão, ferro, vidro e seda. Um exemplo notável é o facto das importações portuguesas nos anos 1741-1745 representarem 18% das exportações de bens da Inglaterra, sendo pagas com o ouro que durante várias décadas do século XVIII chegou a representar 70% das exportações portuguesas.
Por ironia da história, quatro séculos depois os fundos europeus vieram desempenhar um papel semelhante ao ouro brasileiro.
(*) Há uma bibliografia pantagruélica sobre a maldição dos recursos e a doença holandesa nos países ditos em desenvolvimento (alguns deles seriam melhor baptizados de países em subdesenvolvimento) - ver por exemplo 40 Years of Dutch Disease Literature: Lessons for Developing Countries.
(Continua)
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