O conservacionismo, como qualquer das outras inúmeras quase-religiões que são os "ismos", alimenta-se de mitos. Muitos deles não resistem ao confronto com a realidade e a uma observação factual e objectiva, não obstante persistem por décadas ou séculos porque dão respostas à necessidade profunda que o homo sapiens tem de confirmar as suas crenças com "factos" cuidadosamente escolhidos com esse propósito.
Um dos mitos mais resistentes no domínio da ecologia é o suposto dano inevitável que as espécies não nativas, geralmente designadas não por acaso como "espécies invasoras", causam às espécies nativas e ao ambiente.
Uma das vocações do (Im)pertinências é a desmistificação em qualquer domínio, mesmo naqueles que não nos são familiares como é o caso deste, pelo que me socorro de um paper publicado o ano passado que providencialmente passou no nosso radar. Trata-se de "Valuing the contributions of non-native species to people and nature" de Dov F. Sax e outros investigadores da Brown University de cujos highlights respigo o seguinte:
«Apesar dos enviesamentos indiscutíveis de publicação, concluímos que os benefícios das espécies não nativas são diversos, frequentes e muitas vezes de grande magnitude.
É necessária mais investigação destinada a considerar os benefícios das espécies não nativas e a contrastar esses benefícios com os custos para avançar a nossa compreensão dos impactos das espécies não nativas e contextualizar melhor a gestão e as decisões políticas.
Embora a tomada de decisões possa beneficiar da consideração dos resultados positivos e negativos da mudança, ao longo do último meio século, a investigação sobre espécies não nativas centrou-se predominantemente nos seus impactos negativos. Aqui fornecemos uma estrutura para considerar as consequências positivas das espécies não nativas em relação aos valores relacionais, instrumentais e intrínsecos. Demonstramos que os seus resultados benéficos são comuns e profundamente importantes para o bem-estar humano. Os benefícios identificados incluem a coesão social, a identidade cultural, a saúde mental, a produção de alimentos e combustíveis, a regulação de águas limpas e a atenuação das alterações climáticas. Argumentamos que os preconceitos de longa data contra espécies não nativas na literatura turvaram o processo científico e dificultaram os avanços políticos e a sólida compreensão do público. A investigação futura deverá considerar tanto os custos como os benefícios das espécies não nativas.»
Com a ousadia dos ignorantes, poderia especular que talvez quase todas as espécies tenham começado por ser "invasoras" num determinado ambiente até que ser tornaram nativas, apenas porque havia não nenhum conservacionista por perto. É mais ou menos o que se passa com as migrações humanas (já escuto os protestos do "nativismo").
«É mais ou menos o que se passa com as migrações humanas (já escuto os protestos do "nativismo").»
ResponderEliminarE bem precisa de escutar!
Desde logo, porque o artigo hiperligado no texto desta posta deixa muito a desejar, ao escolher apenas exemplos de benefícios proporcionados pelas espécies invasoras, sem nunca providenciar um termo de comparação, benchmark ou análise de trade-off face aos malefícios.
Mas o que é mais extraordinário é o salto "lógico" para a espécie humana por parte do (Im)Pertinente, como se não houvesse inúmeros precedentes de invasões humanas que, no passado, correram muito mal, tanto para os invasores, como sobretudo para os invadidos.
Por exemplo, será que a presença dos romanos no território que hoje corresponde a Portugal foi positiva? Provavelmente, o (Im)Pertinente dirá que sim, porque essa presença propiciou um enorme desenvolvimento político, científico e tecnológico na Península Ibérica. Mas as centenas de milhares de mortos e escravizados na sequência da conquista da "Hispânia" provavelmente não ficaram muito contentes.
E o Al-Andaluz, terá sido um desenvolvimento positivo para os nossos antepassados? Hoje em dia, há muita gente que garante que sim, sobretudo nas universidades de Esquerda. Mas o que é certo é que os mouros foram todos corridos daqui para fora. Se eram assim tão avançados, tão benignos e tão superiores aos europeus, como é que foram todos corridos daqui para fora?
Os índios nativos das Américas também terão muita dificuldade em encarar a chegada dos europeus ao "Novo Mundo" como a melhor coisa que já lhes aconteceu. Digo eu, mas se calhar eles são todos masoquistas e gostaram de ser massacrados...
Eis o cerne do questão: o (Im)Pertinente - e as pessoas que pensam como o (Im)Pertinente - ainda não demonstraram os benefícios das novas vagas de imigração humana oriunda do terceiro mundo. Sobretudo, tal como os autores do artigo, não as demonstraram numa lógica comparativa com os inúmeros aspectos negativos, pesado os benefícios com os malefícios. Porque uma pessoa séria, quando se mete num negócio, tem sempre de fazer isso, pesar as receitas com as despesas.
Portugal, com todos os seus defeitos, é um bom lugar para se viver quando comparado à maior parte do resto do mundo. Excluída a Europa e a América do Norte, poucos são os países mais seguros e, em simultâneo, mais livres do que Portugal. Trazer centenas de milhares de imigrantes do terceiro mundo todos os anos pode alterar isso de uma forma irreversível, porque nunca importamos apenas as pessoas, importamos também os seus hábitos e cultura.
A ideia de que tantos imigrantes vão chegar à Europa e adoptar o modo de vida Europeu é um acto de fé, não é uma projecção racional, porque não há nenhuma evidência que indique ou sequer sugira que isso vá acontecer. Pelo contrário, quando olhamos para o que se passa nas maiores cidades europeias, Londres, Paris, Bruxelas, Berlim, Estocolmo etc., o que vemos é precisamente o contrário, uma recusa intransigente da integração por parte dos imigrantes.
Porque é que havemos de querer o mesmo para Portugal? Porquê?????
O Portugal que é "um bom lugar para se viver" é o resultado de uma das maiores misturas étnicas "quando comparado à maior parte do resto do mundo".
ResponderEliminarTretas. O património genético dos portugueses é sobretudo europeu, por muita mistura que possa ter (e não é tanto como sonsamente se diz). Mas mesmo que não fosse, comparar misturas entre povos europeus e povos extra-europeus seria sempre comparar alhos com bugalhos.
ResponderEliminarÉ que o "anónimo", na sua habitual pressa para me corrigir, esqueceu-se de um pormenor muito importante: se Portugal é bom devido à mistura, então porque é que foi ultrapassado por quase todos os povos do resto da Europa? Povos que, em muitos casos, são etnicamente mais homogéneos do que Portugal?
Enfim, vocês nem sequer pensam duas vezes no que escrevem!
Sem pensar duas vezes, quatro perguntas:
ResponderEliminar1) Portugal "é um bom lugar para se viver quando comparado à maior parte do resto do mundo" apesar de ter sido "ultrapassado por quase todos os povos do resto da Europa"?
2) O que dirão os nativistas apoiantes do Sr. Trump a respeito de "Os índios nativos das Américas também terão muita dificuldade em encarar a chegada dos europeus ao "Novo Mundo" como a melhor coisa que já lhes aconteceu"?
3) E "os índios nativos das Américas" serão nativistas?
4) E, se forem, o que dirão dos nativistas apoiantes do Sr. Trump?
1) Sim, qual é a dúvida? A maior parte dos países deste mundo estão fora da Europa, ou o "anónimo" ainda não tinha reparado?
ResponderEliminar2) Dirão provavelmente o mesmo que eu digo: os males do passado não podem ser usados para justificar os males do presente. Não fomos nós, portugueses actuais que conquistámos a América. Não tivemos qualquer voto nessa matéria. Querem ver que agora Portugal tem de se encher de imigrantes à conta do que aconteceu na América? É isso?
3) Claro que são, pelo menos alguns deles. O que não faltam são organizações de indígenas (e de euro-descendentes), do Canadá à Argentina, que defendem que o continente americano lhes foi usurpado pelos colonizadores.
4) Voltamos ao ponto 2. O passado é para aprender, não para repetir. Além de que essa questão é para ser resolvida entre os trumpistas e os nativos. Eu, como português, estou preocupado é com Portugal e com a Europa. Os que vivem na América que se entendam entre eles.
Mais acrescento: a comparação faz muito pouco sentido, porque os conquistadores europeus eram civilizacionalmente superiores aos nativos americanos, tal como os invasores romanos eram superiores aos nativos ibéricos. Não pretendo com isto legitimar o genocídio dos indígenas, apenas sublinhar que estamos a comparar povos que, independentemente dos massacres, melhoraram os países que conquistaram. Além disso, em ambos os casos, tudo aconteceu num contexto histórico totalmente diferente daquele que vivemos hoje. Hoje condenamos os conquistadores militares, mas incentivamos os conquistadores demográficos.
Mais alguma pergunta? É que o “anónimo” fez-me quatro perguntas, mas não respondeu à pergunta que eu fiz logo no meu primeiro comentário. Vou repeti-la novamente, desafiando o “anónimo” a responder: porque é que havemos de querer que as cidades portuguesas sofram o mesmo destino das grandes cidades europeias? Qual é o grande benefício, que compensa todos os malefícios?
"Porque é que havemos de querer que as cidades portuguesas sofram o mesmo destino das grandes cidades europeias?"
ResponderEliminarSofrer o mesmo destino? E porque não querer que as medíocres e sujas cidades portuguesas com paisagens urbanas deprimentes "sofram" como Londres, Paris, etc.?
Só alguém que nunca foi a Londres e a Paris é que pode escrever uma barbaridade dessas. Desde logo, Londres e Paris são ainda mais deprimentes e sujas do que Lisboa ou o Porto, mesmo em muitas das suas zonas turísticas. Em Paris, os Campos Elísios e as margens do Sena foram tomados por milhares de tendas onde imigrantes de praticamente todo o mundo se foram amontoando ao longo dos últimos anos.
ResponderEliminarMas, pior do que isso, Londres e Paris têm sido assoladas por problemas sociais e índices de criminalidade que envergonham o resto do mundo civilizado. Por exemplo, Londres é uma das cidades do mundo onde morrem mais pessoas na sequência de ataques com armas brancas. E não, os responsáveis não são os ingleses, embora sejam portadores de documentos a atestar que são ingleses.
Já agora, se Londres é assim tão boa, porque é que grande parte população branca fugiu de lá, sendo os brancos ingleses apenas 36,8% (censo de 2021)?
https://en.wikipedia.org/wiki/Demography_of_London
O problema é que o “anónimo” confunde prosperidade económica geral com segurança e qualidade de vida. Não são a mesma coisa. E se o “anónimo” tivesse perdido um filho no Teatro do Bataclan, no Arena de Manchester ou na Estação de Atocha, talvez não reduzisse tudo ao plano económico.
Não, "anónimo", eu não quero que as nossas cidades se tornem infernos como Londres e Paris. Eu gosto das nossas cidades como estão, aliás, acho que já têm "diversidade" a mais. O que se passa no Martim Moniz e no Intendente já é mau demais. Termos 400 mil brasileiros em Portugal – muitos dos quais podem votar em eleições – já é mau demais.
Eu estou farto de ouvir falar português do Brasil todos os dias. Farto da arrogância dos estrangeiros terceiro-mundistas, farto da sua incivilidade, incapacidade, inveja e falta de carácter. Prefiro continuar a viver num país “pobre” a ter de continuar a aturar toda esta gentalha que só tem ódio para dar ao mundo, ou pouco mais.
Se o "anónimo" gosta assim tanto dessas cidades estrangeiras, tem bom remédio: faça como sugeriu o lacaio da Merkel e ídolo da direitinha Passos Coelho, emigre para lá. Não nos lixe é a nós também. Não tem esse direito.
Já agora, aqui fica mais um exemplo, publicado hoje mesmo, do fracasso INEVITÁVEL das políticas de imigração que se defendem neste blogue:
ResponderEliminarhttps://observador.pt/2023/10/21/suecia-limita-beneficios-sociais-para-imigrantes-de-paises-nao-europeus/
Destaco:
«Desde 2012, mais de 770 mil pessoas imigraram para a Suécia oriundas de países fora da UE e do Espaço Económico Europeu. Com uma política de integração que praticamente não tem requisitos (para os imigrantes) e nenhum incentivo à integração na sociedade, esta elevada imigração criou uma Suécia dividida.
Consequentemente, (...) grande parte da população sofre de “segregação, exclusão, desemprego, maus resultados académicos e ausência de valores suecos comuns”.
A coligação pretende implementar reformas para que os imigrantes de países terceiros sejam obrigados a encontrar trabalho e a aprender sueco. O governo quer, ao mesmo tempo, introduzir um limite máximo para a acumulação de apoios sociais.
Kristersson quer também impor um lapso temporal, ainda não especificado, entre a chegada dos migrantes à Suécia e o momento em que poderão receber apoio.»
"Londres e Paris são ainda mais deprimentes e sujas do que Lisboa ou o Porto"
ResponderEliminar"se Londres é assim tão boa"
Se Lisboa e Porto são assim tão boas porque todos os anos milhares de jovens portugueses da "geração mais educada de sempre" vão viver para cidades "deprimentes e sujas"?
«Se Lisboa e Porto são assim tão boas porque todos os anos milhares de jovens portugueses da "geração mais educada de sempre" vão viver para cidades "deprimentes e sujas"?»
ResponderEliminarJá expliquei dois comentários acima, quando escrevi:
«O problema é que o “anónimo” confunde prosperidade económica geral com segurança e qualidade de vida. Não são a mesma coisa.»
Por outras palavras, os jovens portugueses emigram porque lá fora se ganha mais. Sim, é só mesmo por isso. A maioria deles, se ganhasse o mesmo em Portugal, nunca teria saído daqui. É o mesmo princípio pelo qual há pessoas que se sujeitam a trabalhar em plataformas petrolíferas no Norte do Canadá com temperaturas em redor dos -30ºC: não é que a plataforma seja bonita, apenas que o salário compensa.
Mas o mais absurdo nesta "conversa" é que o anónimo queira atribuir a prosperidade das outras nações europeias à sua "diversidade" e, em simultâneo, afirme que Portugal só é bom por ser "diverso". Pura treta! A Europa não dominou o resto do mundo por ser "diversa", mas sim por ter adoptado uma cultura de rigor, meritocracia e exigência que não deu hipóteses aos competidores. A mesma cultura que agora a "diversidade" está a fazer tudo para destruir!
Transtorno obsessivo-compulsivo.
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