24/09/2023

DIÁRIO DE BORDO: Elegeram-no? Então aguentem outros cinco anos de TV Marcelo (17) - Uma espécie de autópsia antecipada de S. Ex.ª

Então aguentem outros cinco anos, uma espécie de sequência indesejada da série Outras preces (não escutadas).

«(...) A função presidencial está comprometida. Atores políticos vários, no segredo das confidências, começam frases assim: eu até gosto do Marcelo, mas... Este “mas” é uma interrogação e a expressão de um cansaço. Quosque tandem abutere, Marcelo, patientia nostra? Qualquer observador sensato, não precisa ser Cícero, está farto das manifestações instantâneas de portuguesismo “fixe” que ganham atributos de cerimónias de Estado. A recusa de uma atitude séria sobre o mundo não serve o momento grave. A sociedade portuguesa, empobrecida e classificada pelos mecanismos do capitalismo e do mercado como não rentável, está a tornar-se um estudo antropológico sobre o ressentimento. E o desapontamento.

Marcelo talvez ache que a sua marca de populismo conseguirá estancar marcas mais viciosas, impedindo-as de se tornarem dominantes. Está errado. O pensamento popularucho, somos fado, bacalhau e Ronaldo, coloniza o discurso português, transformando-o no beneficiário de todos os niilismos. Se só somos isto, somos nada. Somos repasto de turistas, fado e bacalhau, e das paixões tribais da bola. Não temos método nem propósito, não temos história, não temos ciência, não temos cultura, não temos nada exceto o juízo dos outros sobre o valor de entretenimento.

Nem por ironia é aceitável. Uma sociedade sem reportório crítico, sem vitalidade intelectual, sem convicção, sem educação. Fado e bacalhau, a retórica pobre dos pobres de espírito. Ronaldo, o novo Camões. A estrutura deste vocabulário é perigosa, embalando a ignorância num contexto político e, dir-se-ia, estético, que faz dos portugueses seres que não governam o seu destino, são governados.

A versão identitária da portugalidade no texto de Marcelo não passa de indulgência e transtorno cognitivo. O estereótipo é tudo menos uma experiência estética.

Outros Presidentes, como Soares e Sampaio, leram muitos livros de História. Talvez fosse bom que Marcelo se retirasse dos afetos e, por uma vez, lesse até ao fim um livro em vez de o apresentar, recomendar e prefaciar. Recomendo-lhe dois, “O Livro do Desassossego”, de Bernardo Soares, e “Os Lusíadas”, de Luís de Camões. E releia, supondo que leu, “Os Maias”. Nele encontrará uma perso»nagem chamada Dâmaso Salcede. Um estremeção de reconhecimento e identificação será inevitável. (...)»

Clara Ferreira Alves, aka Pluma Caprichosa, no Expresso

2 comentários:

  1. A azougada plumitiva que me perdoe, mas ele é mais Brigadeiro Chagas ( aquela tirada do "torrãozinho de açúcar" ).
    O "Dãmaso" vai por inteiro para o grunho , um santos inenarrável bacoco, que fez de ministro de infra qualquer coisa durante os tempos.
    Diga-se, com toda a justtiça, que teve (tem ) um sucessor à altura...

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  2. Dançar e cantar o popular vira é bem mais fácil do que declamar poesia...

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