As nossas luminárias silenciosas durante os anos em que o quantitative easing criou as condições monetárias para o actual surto inflacionista, começaram a falar como papagaios ignorantes e/ou oportunistas sobre política monetária quando o BCE está a aumentar com atraso taxas directoras, sendo mais grave o caso do Dr. Mário Centeno, por não ter as desculpas de ignorância que o Dr. Costa e o Dr. Marcelo podem invocar.
Andava para escrever sobre estes arrotos, mas Luís Rosa no Observador dispensou-me o trabalho de o fazer com o artigo «Mário Centeno quer ser governador do Banco de Portugal ou quer regressar à política?» do qual extraio alguns passagens;
«É neste contexto que as nossas elites políticas, num estranho consenso com o Bloco de Esquerda e do PCP (dois partidos anti-europeus), decidiram atacar a política monetária do BCE, avisando de que a mesma pode levar a uma recessão económica. (...)
O governador Mário Centeno conseguiu ainda ser bastante pior do que o poder político. No mesmo dia em que Lagarde garantia ao mundo que o BCE estava “empenhado em alcançar” a meta de 2% para a taxa de inflação e em que os líderes dos três principais bancos centrais do mundo garantiam que as taxas de juro iriam continuar a subir por a inflação ainda não estar controlada, Centeno surpreendeu a opinião pública com mensagens contrárias numa entrevista à RTP:
- “A trajetória das taxas de juro vai continuar em alta mas está estabilizada“;
- “estamos muito próximos de ter de pausar a política monetária”;
- estão previstas “quedas efetivas, mas baixas, na taxa Euribor ao longo de 2024″, acrescentando que a taxa Euribor deverá atingir o pico entre setembro e novembro. Mais: Centeno especificou mesmo que a Euribor a 12 meses vai atingir o pico “em setembro” e a Euribor a 3 meses e a 6 meses atingirão o seu máximo em “novembro”.
É estranho que um homem tão cauteloso com o seu próprio dinheiro, seja tão temerário nestas projeções que, repito, contrariam o discurso da presidente do BCE.
O que me suscita as seguintes questões:
- Como é que a trajetória das taxas de juro “está estabilizada”, se a presidente do BCE pré-anunciou na prática duas subidas de 50 pontos base que, globalmente, vão passar a taxa de juro para 4%?
- Como é que o BCE está “muito próximo de pausar” a subida das taxas de juro, quando Lagarde anunciou precisamente o contrário e recusa explicitamente qualquer pausa? Mais: o Fed e o Banco de Inglaterra também recusam qualquer pausa.
- E, finalmente, como é que Mário Centeno pode garantir ou prometer “quedas efetivas, mas baixas, da taxa Euribor ao longo de 2024, especificando mesmo que o pico será atingido em setembro (Euribor 12 meses) e em novembro (3 e 6 meses)? O governado Centeno controla ou tem mecanismos para controlar o mercado livre da Euribor que costuma antecipar as subidas da taxa de juro decididas pelo BCE?»
O Sr. Centeno, se levasse a sério o que ele próprio diz, investiria tudo o que tem no mercado de futuros das taxas de juro e ficaria riquíssimo.
ResponderEliminarPut your money where your mouth is Mr. Centeno
Mas lá está, os socialistas só arriscam com o dinheiro dos outros, com o deles, está lá quieto