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Apropriadamente, no dia de Carnaval, dois dias antes do aniversário da invasão da Ucrânia, a que chamou "Operação Especial" e era para durar alguns dias, o Czar Vladimiro ofereceu à assembleia federal russa o melhor exemplo de discurso orwelliano produzido este século.
Depois de um ano em que se estima que o exército russo tenha sofrido 200 mil baixas e o grupo de mercenários Wagner composto de presidiários 30 mil, que tenha perdido cerca de 10 mil equipamentos (tanques, veículos de todos os tipos, helicópteros e aviões), o triplo das perdas de material ucranianas, que tenha abandonado praticamente todo o território ucraniano que inicialmente ocupou e que a ofensiva em curso está a ser outro desastre, Putin massacrou durante duas horas a audiência com um arsenal de mentiras que desafiariam o Big Brother de "1984" de George Orwell.
Revelando delírios paranoicos, Putin tentou justificar-se apresentando-se como um cruzado na luta contra os depravados ocidentais que pretendem «destruir a família, a identidade cultural e nacional, pervertem e abusam das crianças, praticam pedofilia, e tudo isso é declarado normal na vida deles. Forçam padres a abençoar casamentos homossexuais (...) e que pretendem explorar a ideia de um deus de género neutro.» Ao mesmo tempo que atribuiu a culpa aos líderes ocidentais «que iniciaram esta guerra, enquanto nós usávamos a força e a estamos a utilizar para parar a guerra». Onde é que já vimos tudo isto?
Bernard de Clairvaux: L'enfer est plein de bonnes volontés et désirs.
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