«Dito isto, é, no entanto, possível que as presentes trapalhadas no governo tenham outra explicação menos envolta em amores e desamores. Ela resume-se talvez num verso célebre de Eliot: In my beggining is my end. O princípio de Costa no governo assentou numa mentira fundadora: a de que Pedro Passos Coelho havia sido o responsável pelas políticas ditadas pela troika a Portugal no período da “austeridade” e que a inocência do PS de Sócrates (e de Costa) nesse capítulo era pouco menos do que absoluta. Essa mentira – voluntária e consciente – esteve na base de uma série de mentiras consecutivas, como, por exemplo, a do “virar da página da austeridade”, e transformou uma eleição perdida numa eleição ganha, através do artifício da “geringonça”. Tais mentiras, e a desonestidade política que consubstanciam, nunca o incomodaram em nada. Pelo contrário: foram o combustível que lhe permitiu governar durante sete anos e até obter uma maioria absoluta. E tudo isso sem uma única ideia política digna desse nome: isto é, um projecto claro e definido para o país, fora de algumas noções apanhadas nos discursos de Bruxelas – “transição climática”, “transição digital”, etc. –, que ele papagueou como fórmulas encantatórias. Mas as mentiras, passado algum tempo, que pode ser longo, de gastas e esfarrapadas que são, tornam-se auto-destrutivas. Infiltram tudo o resto. Impedem uma política com um rumo coerente. As trapalhadas recentes do governo são o seu natural corolário: o resultado praticamente inevitável de se ter construído um edifício sobre bases falsas. “No meu princípio está o meu fim”, de facto. E não me venham, por favor, falar de “cansaço”. Porque é muito pior do que isso: é o atingir do limite de elasticidade de uma fórmula perversa que está à beira de se esgotar porque os seus próprios princípios a isso a conduziam.»
Paulo Tunhas no Observador
Resumindo : a Quadrilha do Bicharel 44 continua a dar cabo disto...mas com a aquiescência de parte (maioritária) do rebanho...
ResponderEliminarHá uma aliança patente entre o polvo socialista, o jornalixo, a “educação”, a “cultura”, etc., etc., que nenhuma realidade evidente conseguirá destruir e que o passar do tempo só tende a agravar. A formatação do pensamento e, consequentemente, do sentido de voto, está garantida por muitas gerações (desde que não apareçam factores externos inesperados). Aliás, como já aqui se tem escrito com toda a razão, os problemas do socialismo resolvem-se sempre, na cabeça do portuguesinho, com mais socialismo. Quando o governo PS der com os burrinhos na água, e houver novas eleições, o BE e o PCP vão conquistar uma vez mais os descontentes. Lembrem-se disto na altura.
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