14/12/2022

TIROU-ME AS PALAVRAS DE BOCA: A excelência do futebol português não consegue resgatar a abulia, negligência e incompetência que contaminam o Portugal dos Pequeninos

«Gosto muito de futebol e das paixões que desperta, mas não vejo razão para tanto drama à volta das desventuras da seleção. É particularmente irónico que seja uma seleção no setor mais competente que o país tem produzido a despertar a ira de tantos. É que temos ao longo dos anos no futebol um nível de profissionalismo – e resultados – sem paralelo em nenhuma área, da economia, à cultura, à ciência ou ao desporto. É verdade que Portugal faz bem em muitas áreas, na arquitetura, na engenharia, no turismo, no têxtil e no calçado, na cortiça, no vinho. Mas é na supercompetitiva e darwinista indústria do futebol que atingimos uma consistência que nos distingue. Como adepto agradeço as alegrias e as tristezas que me são oferecidas (porque já não consigo chutar numa bola) por todos os que, melhor ou pior, ano após ano nos relvados deste mundo têm de carregar a responsabilidade de branquear todas as nossas incompetências e falhanços. O grupo de futebolistas e técnicos que mandamos para o Catar têm um nível de profissionalismo e de compromisso com as suas responsabilidades que não tem paralelo com o que encontramos em todos os que fazem deles o bode expiatório de um país empatado, derrotado, ironicamente, os únicos a quem pedimos contas e escrutínio. Fôssemos tão exigentes com quem devíamos (incluindo nós próprios) como somos com os homens da bola, e seguramente seríamos um país muito melhor.» 

Isto não foi escrito por um comentador de futebol, foi escrito no Observador por Rodrigo Adão da Fonseca, especialista em cybersecurity e perigoso liberal.

Tirou-me as palavras da boca, excepto quanto ao gosto pelo futebol, que não partilho, e às paixões que desperta que não aprecio e, pela minha parte, acrescentaria o que escrevi em tempos. A explicação para a excelência do futebol português são várias coisas, entre as quais: uma regulação leve, concorrência nacional e internacional entre operadores e, sobretudo, um mercado de trabalho aberto, competitivo e internacional - deve ser a única actividade em Portugal em que as famílias, os partidos e as maçonarias não arranjam lugares na profissão do chuto para os seus filhos, camaradas e irmãos, respectivamente.

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