«É espantoso como analogias entre os nossos tempos e aqueles que antecederam o início da Segunda Guerra Mundial funcionam. Refiro-me a analogias de carácter e de procedimentos dos participantes. Do lado de Putin, como do lado de Hitler, a mentira permanente. Do lado das democracias, nesta nossa última década como naquele tempo, uma confiança sôfrega na possibilidade da paz. Chamberlain não era a excepção: era a regra. Uma confiança que parecia renovada, e mesmo fortalecida, a cada nova violência nazi. Hitler, fizesse o que fizesse, era, no mínimo, “sincero”, “um homem em quem se podia confiar”. Os “homens culpados” – Guilty Men foi o título de um livro publicado em 1940, sob o pseudónimo de “Catão”, por três jornalistas, um liberal, outro conservador e outro, Michael Foot, futuro líder dos trabalhistas – tentaram apaziguar Hitler até às últimas possibilidades, e muito para lá delas. Quaisquer que sejam as revisões que a história tenha vindo e continue a fazer (o próprio Churchill, aquando da sua morte, fez um seu belo elogio), é difícil não ver Chamberlain à luz daquilo que, na altura, escreveu Dorothy Parker: “o primeiro primeiro-ministro da história a rastejar a quatrocentos quilómetros por hora”.
Tal como hoje Putin faz com a NATO, Hitler acusava a Inglaterra, em pleno período de “apaziguamento”, e com Chamberlain a continuar a recusar um rearmamento substancial, de visar a “aniquilação” da Alemanha. E, como hoje para Putin, para Hitler era a Alemanha a ameaçada e agredida – pelos polacos, por exemplo, antepassados dos “neo-nazis ucranianos”. Não fazia senão tentar libertar os falantes de alemão, onde quer que se encontrassem – nos Sudetas, entre outros lugares –, ameaçados de exterminação pelos outros povos. Lembra-vos alguma coisa? E, tal como hoje em relação a Putin, os jornais eram muitas vezes acusados de serem injustos para com Hitler.»
«Hitler e Putin», Paulo Tunhas no Observador
Suspeito que mais do que as semelhanças entre eles, talvez reduzidas ao ódio de ambos à democracia liberal, têm mais significado as semelhanças das suas circunstâncias: as fragilidades das democracias face à emergência dos movimentos extremos que as ameaçam, então como hoje, e a pusilamimidade dos líderes democráticos que ambos tentaram usar em seu benefício.
Á falta de melhores argumentos, um Reductio ad Hitlerum vem sempre a propósito.
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