Recapitulando, o intervencionismo do BCE, que copiou com atraso a Fed e o BoE, adoptando o alívio quantitativo e as taxas de juro negativas ou nulas, desde o «whatever it takes» do Super Mario de Julho de 2012, é parecido como terapêutica com a sangria dos pacientes praticada pela medicina medieval para tratar qualquer doença, incluindo a anemia.
Depois de mais de uma década de alívio quantitativo e em cima dos incentivos relacionados com a pandemia, nomeadamente o Plano de Recuperação e Resiliência, regressa a inflação com o aumento do preço dos combustíveis e as outras consequências da invasão da Ucrânia, tudo a cavalo das injecções do alívio quantitativo, inflação cuja contenção, recorde-se, é o esquecido objectivo central do mandato do BCE.
De facto, o BCE esteve concentrado nos últimos dez anos a comprar dívida dos PIGS, a pretexto de salvar o Euro, e a evitar uma recessão, propósito não previsto no seu mandato, diferentemente da Fed cujo mandato inclui a contenção do desemprego. Pelo caminho gerou uma inundação de dinheiro barato que alimentou a especulação nos mercados de capitais e imobiliário.
Por isso, o BCE começou por tratar a inflação como algo pontual para justificar não aumentar as taxas e inventou preventivamente um novo mecanismo de "anti-fragmentação" das dívidas públicas para aplicar os rendimentos da dívida comprada no âmbito do PEPP (Pandemic emergency purchase programme) na compra de mais dívida pública aos países em dificuldades, isto é, aos PIGS.
Esquecendo, por agora, as consequências de várias naturezas da compra aos PIGS da sua dívida, o pressuposto de uma inflação passageira não tem qualquer suporte por várias razões incluindo, e não é certamente a menos importante, as expectativas dos consumidores e das empresas que apontam para uma inflação persistente (ver gráficos acima).
Mais tarde ou mais cedo, a UE estará novamente confrontada com as suas contradições: uma união monetária, mais tarde completada com uma união bancária parcial, a que pertencem apenas 2/3 dos países, sem uma união fiscal (que possivelmente exigiria uma união política), e a vontade dos governos dos PIGS de terem sol na eira (endividamento sem limites a taxas europeias) e chuva no nabal (liberdade orçamental para alimentarem as suas clientelas sem sujeição a uma disciplina orçamental).
E tudo isto era previsível, pelo menos desde 1961, quando Robert Mundell («A Theory of Optimum Currency Areas»), concluiu que uma zona monetária para ser óptima precisaria cumprir um certo número de condições e entre elas a mobilidade da mão-de-obra que no caso da EU apresenta ainda barreiras culturais e administrativas (acesso condicionado a muitas profissões, sistemas de segurança social heterogéneos, etc.), e obviamente linguísticas (mais de 20 línguas diferentes), que constituem obstáculos poderosos.
Ou, vá lá, previsível pelo menos desde 1997 quando Milton Friedman escreveu «The Euro: Monetary Unity To Political Disunity?» cujo último parágrafo é:
«The drive for the Euro has been motivated by politics not economics. The aim has been to link Germany and France so closely as to make a future European war impossible, and to set the stage for a federal United States of Europe. I believe that adoption of the Euro would have the opposite effect. It would exacerbate political tensions by converting divergent shocks that could have been readily accommodated by exchange rate changes into divisive political issues. Political unity can pave the way for monetary unity. Monetary unity imposed under unfavorable conditions will prove a barrier to the achievement of political unity.»
Os tempos não vão estar fáceis.
Rise in average salary in last 20 years (2001 - 2021 OECD members)
ResponderEliminarhttps://www.reddit.com/r/europe/comments/vnni90/rise_in_average_salary_in_last_20_years_2001_2021/
os contra apresentados também podem ser encontrados na índia
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