07/10/2021

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Tirando a morte e a dor, o que importa mais às pessoas é o dinheiro

«Se a discussão teórica, quando visa efeitos políticos, corre o risco da puerilidade, quando não de algo muito pior que isso, já a discussão propriamente política sobre as acções dos governos faz obviamente todo o sentido. E, olhando para Portugal, não custa observar que o caminho que o PS de António Costa segue, seja ele “socialista” ou outra coisa qualquer, só pode levar-nos a um lugar muito mau. Usando e abusando de uma linguagem oca e, no limite, incompreensível, não recuando perante nada que lhe permita a manutenção do poder, procurando esmagar qualquer manifestação de independência no seio do Estado e da sociedade, vai criando um mundo irreal alternativo que nos quer fazer crer que é o mundo real. Não é, e vamos todos, mais uma vez, pagar caro por esta brincadeira.

A começar, é claro, por uma maior pobreza. Ela vem aí, mesmo com a “bazuca”, inexorável e sem mistério nenhum. Nenhuma sociedade sobrevive em condições dignas num sistema de mentira permanente, do embuste metódico, que é aquele em que vivemos. Mentira da TAP, mentira das condições do SNS, mentira da educação, e por aí adiante. Mentira de tudo. Quando as pessoas se derem conta de que o pensamento a crédito no qual vivem não passa de uma colossal ilusão, será já demasiado tarde. Perceberão o erro de terem acreditado em quem nunca se preocupou com a construção de uma sociedade viável, onde a riqueza pudesse ser criada. A linguagem oca surgir-lhe-á como aquilo que realmente, desde o princípio, é: linguagem oca. E descobrirão que a linguagem oca lhes deixou os bolsos vazios. Vária gente não passará, é claro, por estes tormentos. Mas as pessoas mais desprotegidas, que são muitas e serão muitas mais, terão uma experiência dura.

De bolsos vazios, não haverá dós de peito ideológicos que as animem. E verão a liberdade a diminuir a olhos vistos. Não, talvez, nas suas formas mais abstractas e gerais, mas certamente nos seus aspectos mais concretos: a liberdade de decidirem por si o que lhes é valioso e de buscarem a satisfação dos prazeres que desejam, incluindo o de sentirem algum orgulho em pertencer a uma comunidade política digna. A herança certa e segura de Costa será essa desilusão. Quanto aos seus putativos herdeiros no PS: não interessa nada.»

A herança de Costa, Paulo Tunhas no Observador

1 comentário:

  1. “A ditadura perfeita terá a aparência da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão..”
    ― Aldous Huxley.

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