Pelo menos foi essa a conclusão do
working paper Brahmin Left versus Merchant Right:Changing Political Cleavages in 21 Western Democracies, 1948-2020 de Amory Gethin,Clara Martínez-Toledano e Thomas Piketty (sim, esse de
O Capital no século XXI). Note-se que a base de comparação é temporal e não entre países.
Para quem não tenha tempo ou pachorra para ler um um trabalho extenso de 150 páginas com anexos e imensos dados, abrangendo 21 democracias e mais de 300 eleições desde a II Guerra Mundial, recomendo o sumário no artigo
Educated voters’ leftward shift is surprisingly old and international da Economist. O que não recomendo é arrumar o assunto com duas ou três generalidades e meia dúzia de chavões [*] só porque as conclusões não confirmam os pré-conceitos ou as opiniões.
Os três diagramas seguintes da Economist são bastante esclarecedores.
O
paper de Piketty faz várias referências específicas a Portugal, uma delas é que não foi ainda observada uma tendência clara para inverter o que chamam «
educational divide» em parte, a meu ver, porque a esquerda portuguesa tem tido um peso eleitoral maior do que na generalidade da Europa e as grandes questões que são bandeiras que a esquerda se apropriou e que atraem o eleitorado com maior nível educacional ("identidade de género", ambiente, discriminação racial) só recentemente começaram a ter relevância em Portugal.
[*] ou umas quantas teorias da conspiração
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarInfelizmente, nem toda a gente tem (nem quer ter) uma subscrição da Economist, pelo que seria interessante que o Impertinente falasse mais um pouquinho acerca dos gráficos que publicou.
ResponderEliminarO que este artigo parece demonstrar, assumindo que o Piketty foi honesto, algo que é sempre duvidoso nessa personagem sinistra, é que formação académica e educação são duas coisas totalmente diferentes. É assombroso que se continue a dizer que as pessoas com cursos superiores são educadas, quando na verdade o que elas são, essencialmente, é formatadas. Ou, na melhor das hipóteses, educadas apenas na área de especialidade que estudaram.
O primeiro gráfico que o Impertinente publicou é bem esclarecedor a esse respeito. Em 1970, quem votava na Direita eram sobretudo os mais ricos e com mais formação académica. E quem votava na Esquerda eram sobretudo os mais pobres e com menos formação.
Porém, em 2010, isso mudou. Quem mais votou na Direita foram os mais ricos e com menos formação académica. E quem mais votou na Esquerda foram os mais pobres e com mais formação académica.
Ora, parece haver aqui um enorme contra-senso ou paradoxo por explicar: se os esquerdistas têm mais formação académica, porque é que são mais pobres? A formação deles não deveria conferir-lhes acesso aos empregos mais bem pagos?
E, sobretudo, porque é que os mais formados deixaram de votar na Direita quando o faziam em 1970? Porque é que a formação e a riqueza salarial deixaram de estar relacionadas?
O que este estudo parece indicar é que houve uma mudança radical no sistema educativo desde 1970. E isso é que seria interessante explorar e explicar.
P.S. Em relação ao documento original, o tal com 150 páginas, a versão do gráfico relativo a 2010 feita pela Economist tem menos pontos do que o original (Figure A16). Os pontos omitidos não são muitos, mas parecem ter sido escolhidos propositadamente para evidenciar a conclusão de que os esquerdistas são mais formados. Ou seja, mais uma vez a Economist procedeu a exercício de distorção da realidade que favorece a narrativa esquerdista.
Afonso de Portugal, muito esclarecedor comentário!
ResponderEliminarObrigado.
@majoMo
ResponderEliminarAgradeço as suas palavras, mas ressalvo que eu não li o documento de 150 páginas, pelo que me poderá estar a escapar alguma coisa.
Há, no entanto, outro dado interessante que eu me esqueci de mencionar no meu comentário anterior: o estudo tem gráficos análogos para 1950, 1960, 1980, 1990 e 2000 (Figure A10 a Figure A16). O que se observa, ao olharmos para todos esses gráficos no seu conjunto (1950, 1960, 1970, 1980, 1990, 2000 e 2010), é que houve uma deslocação progressiva da Direita para o lado menos instruído e da Esquerda para o lado mais instruído. O ponto de viragem definitivo parece ter ocorrido durante os anos 80. Mas a Direita continuou sempre no lado mais rico, enquanto a Esquerda continuou sempre no lado mais pobre!
Ora, para os anos 80 serem o ponto de viragem definitivo, o mais provável é que a causa dessa viragem remonte às décadas imediatamente precedentes, i.e., os anos 70 ou até 60. Precisamente os anos que coincidem com a introdução de uma série de movimentos cívicos e de disciplinas "críticas" nas universidades ocidentais.
Tudo isto para tentar responder à pergunta formulada pelo Impertinente no título desta posta: “e se a melhoria nos níveis educacionais favorecer o voto nos partidos de esquerda?” Este estudo indica que, de facto, favorece. A Direita precisa agora de perceber exactamente porquê.
Não esquecer o trilema de Xixek. A esquerdalhaNoey Chotika : Chotika Wongwilas : Majalah Dewasa nunca terá futuro. Poderá ter passado.
ResponderEliminarAbraço
Saíram gatos: Zizek & all
ResponderEliminarAbraço