18/05/2021

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: A troika que saiu pela porta da frente pela mão do governo de Passos Coelho vai regressar pela porta das traseiras do Dr. Costa

«As recomendações para se avançar com as reformas foram sempre aparecendo no quadro do exercício do semestre europeu – como se pode ver aqui –, mas totalmente ignoradas. Qualquer tentativa de alerta servia para o Governo fazer as mais variadas declarações de intenções a quem protagonizava esses avisos. Durante praticamente os últimos cinco anos, o Governo permitiu-se usar uns truques para controlar as contas públicas e assim demonstrar que não eram necessárias reformas nenhumas porque se tinha conseguido um milagre. O primeiro excedente orçamental era um almoço grátis. (...)

Infelizmente para todos nós, a pandemia expôs o estado em que estava o Serviço Nacional de Saúde, da falta de recursos humanos e técnicos à desorganização. E a necessidade de suportar a economia basicamente através de empréstimos com garantia de Estado mostrou como as contas públicas estavam longe da correcção que poderiam já ter sido feita, se a política económica e financeira tivesse sido mais corajosa.

A reforma do Estado ficou por fazer, mesmo tendo todos a consciência de que é financeiramente impossível aguentar os compromissos subjacentes às regras de progressões nas carreiras – optou-se por ir atirando o problema para a frente. Nas pensões o PS foi resolvendo o problema acusando Pedro Passos Coelho de querer cortar pensões e dizendo que estava tudo bem. (...)

Mas agora temos de novo a promessa de reformas. Como já várias vezes se tinha alertado, uma das condições de acesso aos subsídios do Plano de Recuperação e Resiliência é cumprir as recomendações integradas no semestre europeu. (...) 

Quando não resolvemos um problema ele apanha-nos sempre lá à frente ainda maior. Perdemos quase cinco anos, em que o Governo fingiu que não era preciso mudar nada, que bastavam umas cativações de dinheiro nas áreas que poucos identificavam, ao mesmo tempo que se alterava cirurgicamente as regras dos impostos para cobrar mais dinheiro, e o problema ficava resolvido. Não ficou, esteve debaixo do tapete. A pandemia levantou o tapete e expôs as fragilidades na Saúde. E agora, para recebermos os subsídios, temos de os pagar com as reformas que o Governo não quis fazer. E assim regressam as políticas e reformas defendidas pelos economistas que construíram o plano da troika. Vamos ver se é desta que há coragem política para de facto melhorar a nossa vida

O regresso da troika, Helena Garrido no Observador

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